09/12/2016 às 10h33min - Atualizada em 09/12/2016 às 10h33min
Outro voo caiu, mas você não soube
O voo da Chape caiu. Interrompeu inúmeras vidas, inúmeros sonhos. Trouxe dor, reflexão, sentimento de impotência. Que droga, uma gurizada cheia de sonhos. Planos. Oportunidades. Dói ver a chegada dos corpos, bandeiras que ora foram vibrantes hoje apenas adormecidas sobre caixões de madeira que representam a dor dessa tragédia.
O voo do Dik também caiu. Lá no Mato Grosso. Não passou na Globo. Não houve bandeiras. Nada de comoção. Vi alguns comentários maldosos e, mesmo na rede social da mãe dele, eu não vi os textos lindos que li sobre os tripulantes do último voo do time de heróis. Para o Dik ninguém escreveu uma música. Nem uma carta de despedida. Eu sei. Procurei bastante.
Seu voo também caiu. Não era um avião grande, cheio de pompas e honras, era só um bimotorzinho que decolou lá de Goiânia e, olha que ironia, iria pousar em Sorriso. Sorriso... Como você sempre abria aqueles grandes quando conversávamos. Com seu sotaque cantado quando dizia “Mana, preciso arrumar uma namorada, tenho que ir pro sul” (adorava o modo como carinhosamente nos chamávamos de Mana e Mano). Lembro como se fosse ontem, você contando seus planos de piloto, sonhador. Queria pilotar voos comerciais.
Infelizmente, tempo depois você sumiu. Desapareceu. Pelo que li nas notícias, agora você andou aprontando, hein, rapazinho. Que droga, você precisa de uns puxões de orelha e eu vou dar quando lhe encontrar. Tem mais gente aqui que quer puxar sua orelha. Mas antes vamos lhe dar um beijo e um abraço. Bem carinhoso. Colocá-lo no colo e rir um pouco. Você não sabe, mas foi muito amado, muito menos do que merecia, mas muito mais do que você sabia.
Avião cai em Nova Xavantina, eu li. Quatro corpos foram identificados. No avião havia armas e 15 mil reais. Essa foi a notícia. Não dizia que caíram quatro jovens, quatro sonhadores... Nem sei quem eram os outros caras, mas você eu sei. Um menino. Que a vida deixou lá longe de nós aqui. Um garoto que curtia festa e sonhava vir a Porto Alegre. Queria muito passar um fim de ano aqui no Sul, mas a grana estava curta (eu me pergunto o que fizeram com o que era seu, a porta das suas oportunidades e sonhos). Você errou, carinha. Errou ao escolher o caminho mais rápido acreditando que lhe daria o que precisava para realizar seus sonhos. Tinha gente aqui por você. Mas, Dik, nós sabemos o menino bom que ficou ali naquele avião. Conhecemos o tamanho dos seus sonhos e da sua bondade.
Seu voo também caiu e, agora, também foi homenageado, na vida, na imprensa e, tenha certeza, em nossos corações.