19/06/2020 às 11h33min - Atualizada em 19/06/2020 às 11h33min

Falha na plataforma da Saúde gera subnotificação

Site - terra.com.br
As secretarias estaduais de Saúde relataram dificuldades na hora de atualizar os dados sobre o coronavírus na plataforma online do Ministério da Saúde, o e-SUS. A falha gera atraso no processamento de dados diários e agrava a subnotificação no País. Nos últimos dois dias, o número de confirmações por covid-19 foi abaixo da média. Isso também indica que haverá um grande aumento de casos nos próximos dias quando o sistema for normalizado.
Se na terça-feira a pasta confirmou 34.918 casos e na quarta o número caiu para 32.188, na quinta a média foi menor ainda, com apenas 22.675 novas confirmações. O que poderia levar a crer que a curva estaria diminuindo no Brasil, ou a quantidade de testes seria menor, na realidade era um problema de sistema que não contabilizou todos os novos casos em um momento que o Brasil se aproxima da marca de 1 milhão de contaminados.
Já pelos dados do consórcio de veículos de imprensa formado por Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL, o Brasil registrou pelo terceiro dia consecutivo mais de mil mortes por covid-19 em 24 horas. Foram 1.204 óbitos em 24 horas, segundo o levantamento. E o número de casos confirmados da doença no País saltou de 960.309 para 983.359 entre quarta e quinta-feira - foram 23.050 novos registros em 24 horas. O total de vidas perdidas chega a 47.869, conforme o levantamento dos veículos de imprensa, iniciado após o governo Bolsonaro falar em rever a sistemática de divulgação.
O e-SUS e o Sistema de Informação de Vigilância (SIVEP) são sistemas online utilizados pelos serviços de saúde gestores das três esferas do Executivo. De acordo com o protocolo do Ministério da Saúde, a prioridade é notificar, investigar e confirmar os casos de Síndrome Respiratória Aguda (SRAG) que derem entrada no hospital.
Após receber o resultado positivo dos laboratórios, o serviço que atendeu o paciente deve atualizar a notificação - pode fazer diretamente nos sistemas oficiais -, comunicando também o caso confirmado ou descartado à prefeitura, que é a responsável por abastecer o sistema oficial do Ministério da Saúde.
Procurado, o Ministério da Saúde respondeu que o processo de notificação de casos suspeitos de covid-19 está ocorrendo normalmente e a base de dados está totalmente preservada. "É importante destacar que existem duas formas de exportação de dados do sistema e-SUS Notifica: diretamente do aplicativo ou por meio de uma aplicação (API). Este último utiliza tecnologia mais leve e é indicado para grandes volumes de dados, caso de secretarias estaduais de saúde e de grandes municípios. Ocorre que algumas unidades da federação utilizaram o aplicativo para exportação de dados, o que não é recomendado." O Estadão também procurou o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), que não se manifestou sobre a situação.
 
Na quinta, o secretário estadual da Saúde de São Paulo, José Henrique Germann, disse que estava há dois dias sem conseguir atualizar os dados na plataforma do e-SUS. "Temos acionado o Ministério da Saúde para entender porque isso está ocorrendo. Esperamos a estabilidade do sistema, porque dependemos desses números para acompanhar a evolução da doença." Para se ter um parâmetro, os números de casos em São Paulo caíram de 8.825 na terça, um recorde, para pouco mais de mil em cada um dos dois últimos dias. "Esse sistema é fundamental, porque ele traz os casos que não tiveram internação na contabilidade. Sobre óbitos e casos com internação, acessamos pela nossa base de dados", afirmou a secretária de Desenvolvimento Econômico, Patrícia Ellen da Silva.
Com a instabilidade do e-SUS, a Secretaria Secretaria de Estado de Saúde (SES) do Rio de Janeiro disse que atualizou os dados utilizando outro programa, o SIVEP-Gripe, mas que atualizaria os dados no e-SUS assim que a situação fosse normalizada. "Normalmente a SES faz a exportação da base direto pelo sistema, o que hoje (18 de junho) não foi possível."
A lentidão e a instabilidade levaram o governo do Pará a elaborar o Sistema Estadual de Notificação de Covid-19, o Portal da Covid-19, no qual todos os dados são atualizados diariamente. "É importante ressaltar que o e-SUS só recebe dados de casos de síndrome gripal de pacientes não internados e que, apesar das dificuldades, a secretaria tem orientado os gestores municipais a fazerem a devida alimentação e, inclusive, montou uma força-tarefa para atualizar os dados no e-SUS durante a noite, porque é um horário em que se torna mais fácil o acesso ao sistema", disse em nota. A Secretaria Estadual de Saúde de Mato Grosso também estuda desenvolver um sistema próprio para que os municípios possam utilizá-lo.
No Nordeste, a Secretaria de Saúde da Bahia disse que contatou o Ministério da Saúde e o Conass na manhã de quinta por causa do problema. Mas, ainda no fim da tarde, ainda estava com instabilidade para acessar as bases do e-SUS.
"Recentemente é quase uma constante o problema", afirmou a Secretaria de Saúde do Piauí, que afirmou que o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) do Piauí vem enfrentando "dificuldades pontuais" para acessar a plataforma, pois a notificação assim como a exportação e retirada de dados se mantém instável.
A Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte disse que, diante do problema, a estratégia adotada foi focar nos resultados de RT-PCR (teste rápido) que são liberados pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen). "Ou seja, a partir dos dados do dia anterior, são acrescentados os resultados liberados no dia. O sistema do ministério vem passando por diversas instabilidades, o que reflete na ponta e prejudica a agilidade em alimentar o sistema com as informações notificadas no papel."
Secretarias de saúde de outros Estados também manifestaram o mesmo problema, como a do Distrito Federal, que não conseguiu baixar o banco para atualização de dados, apesar de ter afirmado que o sistema "melhorou bastante". Já a do Amazonas comentou que a inserção das informações referentes à covid-19 encontrava-se normalizada./ Colaboraram João Ker, Marina Aragão, Paloma Cotes e Sandy Oliveira

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