Em 17 de março foi anunciada a primeira morte confirmada pelo novo coronavírus no Brasil; veja como ela avançou de lá para cá e compare a situação com outros países. No dia 17 de março de 2020, o ministério da Saúde revelou a primeira morte confirmada como resultado do coronavírus. De lá para cá, a Covid-19 se espalhou rapidamente entre os brasileiros, com mais de 30.425 casos oficialmente confirmados, com 1.924 mortes registradas ao longo destes últimos 30 dias.
Como foi o primeiro mês em outros países?
Nos últimos tempos, a China se notabilizou pela forma como conseguiu controlar o contágio pelo coronavírus, mas o fato é que o vírus surgiu por lá, e, portanto, o país foi o primeiro no mundo a registrar mortes pela doença. A primeira morte por Covid-19 foi anunciada no dia 11 de janeiro, na China. Olhando 30 dias para o futuro, no dia 10 de fevereiro, o país registrava 909 mortes confirmadas até aquele momento. O país teve a vantagem de ver seu surto praticamente isolado na cidade de Wuhan, na província de Hubei, o que facilitou um pouco o controle. Na sequência, foi a vez da Itália anunciar sua primeira morte. Isso aconteceu no dia 21 de fevereiro. O país viu um crescimento mais violento no número de óbitos do que as estatísticas divulgadas pela China. Após 30 dias, no dia 22 de março, este número já chegava a 4.827 pessoas mortas por Covid-19. A Espanha teve algum atraso em relação à Itália, mas logo se juntou a ela em uma curva crescente e rápida no número de mortes. O primeiro óbito foi registrado apenas no dia 3 de março. Depois de 30 dias, o cenário já era bem preocupante. Em 2 de abril, o país registrava um número de 9.053 pessoas mortas por infecção do coronavírus. A curva aumentou rapidamente em questão de um mês.
Estados Unidos, o país é hoje o epicentro da pandemia, registrando mais mortes do que qualquer outra parte do planeta, concentradas principalmente na região de Nova York. No entanto, o primeiro óbito confirmado aconteceu apenas no dia 29 de fevereiro. No dia 30 de março, exatamente 30 dias depois da primeira morte ser confirmada, o cenário já era muito pior, com 2.509 óbitos, em um momento que a curva começava a acelerar.
Existem alguns motivos para a situação no Brasil estar menos graves do que outros países pelo mundo. Uma delas é o fato de que o país limitou a circulação razoavelmente cedo. Depois de 15 dias do primeiro caso diagnosticado, várias cidades no país começaram a fechar estabelecimentos. Em comparação, Nova York, que é o epicentro da pandemia nos EUA, não estava completamente fechada há três semanas.
Também ajuda o fato de que o Brasil teve tempo de observar o que acontecia no resto do mundo e se preparar mais adequadamente do que outros países que sentiram o impacto da Covid-19 em "primeira mão". Isso permitiu também entender melhor o que funciona no tratamento da doença e evitar mais óbitos. Segundo Schlesinger, já se conhecem as três principais condições que normalmente levam o infectado pelo coronavírus a morrer: uma infecção secundária, causada por alguma bactéria, que pode ser tratada com antibióticos; trombose, criando coágulos que podem ser tratados com anticoagulantes, e, por fim, há a resposta imunológica excessivamente inflamatória, que pode ser atacada com corticoides. Há outros elementos favoráveis ao Brasil em comparação com outros países mais afetados. A maioria deles está no hemisfério norte e enfrentaram o inverno, que propicia a propagação de doenças respiratórias. O clima mais quente do Brasil pode ter ajudado a minimizar esse problema até o momento. A densidade populacional mais baixa também é um fator favorável para dificultar a propagação do vírus. Mas... e os números reais? É fato que há subnotificação de casos da Covid-19. Desde o princípio do surto no Brasil, o Ministério da Saúde tem orientado o público a não sair de casa para ser testado enquanto a doença não desenvolve seus sintomas mais severos, como a dificuldade de respirar. Isso faz com que os casos mais leves e assintomáticos muitas vezes sejam totalmente desconhecidos e não entrem nas estatísticas. Estimativas apontam que o país já pode ser até mesmo o segundo país com mais infectados no mundo e que a maior parte dos casos são desconhecidos. Essa dificuldade de diagnóstico fica evidente nos números de internações por SRAGs (Síndromes Respiratórias Agudas Graves) neste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. Em março de 2020, o número de casos chegou a aumentar em 9 vezes em comparação com 2019; isso não permite saber exatamente quantos casos estão acontecendo, mas deixa claro que algo incomum ocorre e causa um número muito maior de internações do que o normal. No entanto, a falta de insumos para realizar testes também afeta a estatística de óbitos. O Ministério da Saúde já revelou que há muitos casos de óbitos suspeitos de Covid-19, mas que não foram confirmados pela falta de testes. Para piorar, há relatos de atraso entre as mortes e a sua inclusão nas estatísticas oficiais. O site Brasil.IO, que gerencia bancos de dados coletados de fontes públicas, fez essa observação na semana passada, quando, no dia 10 de abril, as estatísticas oficiais confirmaram a milésima morte por Covid-19 no país. O Portal de Transparência do governo, citando informações de cartórios brasileiros, já apontava que a milésima morte havia sido registrada em 6 de abril, quatro dias antes dos dados oficiais.
Se hoje o número oficial de óbitos é de 1.924, podem existir tantas outras mortes ainda aguardando confirmação ou que simplesmente ainda não foram computadas por qualquer motivo. Nos cartórios, o número de casos fatais de Covid-19 é de 2.164, de acordo com o Portal de Transparência. Ainda há outro dado preocupante em relação à subnotificação de óbitos. Durante apresentação da quarta-feira (15), o Ministério da Saúde anunciou 204 mortes novas, sendo que apenas 10 deles realmente haviam ocorrido naquele dia. Isso dá a entender que outros óbitos ocorridos no dia deverão ser identificados apenas em algum momento no futuro.
Como a Covid-19 se compara a outras causas de mortes?
A Covid-19 pode não ter uma letalidade das mais altas, e isso fica claro graças às estatísticas de países que estão diagnosticando os casos mais leves graças a uma disponibilidade maior de kits para testagem de pacientes. No entanto, a facilidade de contágio faz com que mesmo 1% ou 2% de letalidade represente um número enorme de mortes.É o que tem sido visto nos Estados Unidos, que hoje lidera o mundo em número de contaminados e em mortes. O país superou a marca de 2 mil óbitos por dia causados pela Covid-19 e já há estimativas que colocam a doença como uma das principais causas de mortes no país Neste momento, o Brasil já passou da marca das 200 mortes anunciadas por dia causadas pela Covid-19. Se esse ritmo acelerar, não vai demorar para que a doença sozinha supere a média diária de óbitos das cinco causas de mortes mais frequentes no Brasil. Também é importante notar que especialistas do mundo inteiro têm reforçado que o problema da Covid-19 não é só a sua letalidade, mas a forma como ela ataca o sistema de saúde, causando a sobrecarga dos hospitais. Em caso de colapso por falta de leitos hospitalares, nem pacientes com coronavírus, nem pacientes com outras condições poderão ser atendidos adequadamente, causando um aumento da letalidade de todas as doenças, e não só da Covid-19. Outro exemplo de doença perene no Brasil é a dengue. Durante o ano de 2019, o número de infectados esteve em alta, causando o segundo maior número de óbitos em um ano, atrás apenas de 2015. Foram 754 casos fatais, de acordo com o Ministério da Saúde. Os números são referentes a dados registrados até 7 de dezembro. Em um mês, a Covid-19 já matou mais do que a dengue no ano passado inteiro.