15/07/2022 às 11h15min - Atualizada em 15/07/2022 às 11h15min

"Covid fog" e os sintomas que não passam

CRISTINA BONORINO
Gaucha ZH
Os relatos iniciais de perda de memória, de fluência, de velocidade de raciocínio e de falta de atenção de pacientes que se recuperavam de covid-19 eram o que chamamos de anedóticos. Em geral, eram comentários de um parente ou amigo, ou algo que se lia em uma rede social. Atualmente, esses sintomas estão sendo catalogados e estudados de forma sistemática, e os números são bem dramáticos. No campo cognitivo, um em cada quatro pacientes de covid-19 apresenta um ou mais sintomas dos descritos acima, que são chamados em inglês de covid fog, ou "nevoeiro de covid". Se os sintomas persistem por mais de oito semanas, ajudam a compor o quadro do que se chama hoje de covid longo. Essa síndrome não acompanha apenas doença grave. Pessoas com sintomas respiratórios leves causados por infecção pelo SARS-CoV-2 também estão nas estatísticas de sintomas cognitivos que podem perdurar por semanas. Esse vírus tem como característica induzir sintomas neurológicos. Isso acontece não porque ele infecta neurônios, mas porque induz uma inflamação em tecidos cerebrais. Um tipo especial de célula está no centro dessa inflamação, as células da micróglia. Chamadas por alguns de "os macrófagos do cérebro", elas desempenham diferentes papéis, desde fagocitose de células mortas até a coordenação da diferenciação de neurônios, impactando profundamente o funcionamento cerebral. Elas estão ligadas a doenças degenerativas como o Alzheimer, e são centrais para os problemas neurológicos desenvolvidos por pacientes de HIV. Em ambos os casos, formas de demência são induzidas por uma inflamação crônica, que no caso do HIV não se resolve nem com o uso de antiretrovirais. Já não importa se há vírus ativo: algum processo desencadeou uma inflamação microglial que não resolve de forma espontânea. Nesta semana, um grupo da Universidade de Stanford mostrou semelhanças entre o fog cerebral da covid e o que chamam de "cérebro de quimioterapia", uma condição neuroinflamatória que pacientes oncológicos desenvolvem após tratamento com quimio ou radioterapia. Nesse caso, as células da micróglia produzem moléculas inflamatórias com efeito neurotóxico, e uma cascata de ativação de múltiplas células impacta tanto matéria branca como cinzenta. Os pesquisadores analisaram um modelo animal e pacientes de covid leve. Identificaram um aumento de atividade de micróglia tanto em matéria branca subcortical quanto no hipocampo, que se manteve até sete semanas depois da infecção. Uma citocina, a CCL11, estava elevada no fluido cerebroespinhal. Os cientistas mostraram uma diminuição do número de neurônios do hipocampo, área crucial para a memória. Eles testaram ainda vírus influenza e viram ativação da micróglia e toxicidade para o hipocampo também, mas isso resolveu rapidamente. O que o Alzheimer, a quimio e a radioterapia, o HIV e o SARS-CoV-2 podem ter em comum e que afeta os mesmos processos cerebrais? Ou será que são mecanismos diferentes? Sem dúvida esse não é um coronavírus típico, como os demais que já são endêmicos e estão entre os vírus que causam o resfriado. Uma coisa sabemos: vacinação previne também o fog. Vacine-se.

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