Debêntures e alienação fiduciária. Nomes difíceis para uma situação complexa. Estas são as alternativas pensadas pelo Inter para aliviar a sua situação financeira. O assunto será apreciado pelo Conselho Deliberativo na segunda-feira (16). Entre as possibilidades cogitadas está a utilização do Estádio Beira-Rio como garantia.De uma forma simplificada, a direção colorada tenta a renegociação de sua dívida para um pagamento mais prolongado com juros mais baixos. A seguir, confira uma série de perguntas e respostas sobre o tema.
O que são debêntures?
Trata-se da emissão de títulos de renda fixa emitidos para a captação de recursos. Na prática, os investidores emprestarão dinheiro para o Inter, que poderá pagar a dívida em um prazo mais longo e com juros menores.
O que é a alienação fiduciária?
É a ação que pode fazer com que o Beira-Rio se torne garantia de pagamento. Consiste na transferência por parte do devedor da propriedade de um imóvel de maneira indireta. O imóvel fica como garantia caso a dívida não seja quitada. — Se renegocia a dívida dando garantias com taxas de juros menores. É uma operação comum e lógica porque dá aos credores uma garantia real, um imóvel — explicou o advogado Marcio Carpena, Carpena Advogados, especialista em direito bancário e financeiro.
O que o Inter pretende com as debêntures?
A direção quer aliviar o seu caixa e pagar juros menores. A intenção é captar R$ 200 milhões no mercado, com investidores. Além de diluir em mais tempo o pagamento da dívida, teria um período de um ano para se organizar e iniciar o pagamento dos credores. De acordo com o balanço de 2023, a dívida total do clube era de R$ 693,9 milhões até aquele ano.
Quanto diminuiria os juros dessa parcela da dívida?
Em sua conta no X, o economista Aod Cunha, ex-secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul no governo Yeda Crusius e ex-CEO do Inter, fez a estimativa de que o clube passe a pagar como juros o CDI + 6% ao ano, o que deixaria os juros na casa de 18% a 20%, em 2025. Ele considera o taxa ainda elevada, mas mais baixa do que o CDI + 12% ao ano atuais.
Qual o prazo para o pagamento do empréstimo?
De cinco anos, com um ano de carência. O Inter teria um ano de alívio para se organizar e iniciar o pagamento. “O que me preocupa mais é que mesmo que a debênture diminua os custos de uma parte da dívida, ela não vem associada a um plano que mostre como a origem de dívidas serão eliminadas no tempo”, postou Cunha. “O clube ainda segue deficitário”, complementou.
O Inter pode perder o Beira-Rio?
Se a alienação fiduciária for aprovada, sim. Mas não seria um processo simples. Para isso acontecer, o Inter teria de ficar inadimplente por um número de prestações prevista em contrato. A partir deste momento, o clube será notificado. Caso não quite o débito, o patrimônio, no caso o Beira-Rio, se consolida como patrimônio do credor, que terá 60 dias para levar o imóvel à leilão. Do valor arrecadado, o credor retiraria o valor que lhe é devido e a diferença ficaria com o Inter.— Fizemos um cenário de teste de estresse e até no pior momento da pandemia seriam suficientes as receitas sociais para essa operação — garantiu o vice-presidente do Inter, Victor Grunberg, em declaração colunistas de GZH Jocimar Farina.
Há como oferecer outras garantias?
Existe essa possibilidade. Podem ser oferecidas outras garantias chamadas de crédito de alienação fiduciária. Nesse caso, entrariam receitas com o quadro social, bilheteria, fundo de reserva. Também poderiam ser utilizados valores oriundos da vendas de atletas e/ou a cota de televisão.
O clube pode buscar vários investidores?
Pode, e é provável que aconteça. Mas eles terão de se organizar em uma mesma empresa. Formarão um condomínio de credores. Isso acontece porque a alienação fiduciária não pode ser fracionada, o que não permite que cada pedaço do Beira-Rio seja de um investidores diferente.
O que acontece se as debêntures não forem aprovadas?
Caso o Conselho Deliberativo vete a medida, ela será arquivada. O Inter terá que encontrar outra alternativa para a busca por recursos.