09/11/2024 às 09h22min - Atualizada em 09/11/2024 às 09h22min

Jurado de morte pelo PCC: quem era o homem executado no aeroporto de Guarulhos

Gaucha ZH
Câmera Record / Youtube / Reprodução
Morto com 27 tiros no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na sexta-feira (8), Antonio Vinicius Lopes Gritzbach era delator de uma das maiores investigações sobre lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC), maior facção criminosa do país.
Entre os bandidos, dizia-se que havia um prêmio de R$ 3 milhões pela cabeça do delator. Além de Gritzbach, dois motoristas de aplicativo e uma passageira foram baleados. A informação até a noite de sexta-feira era de que o quadro de saúde das vítimas era estável.
Gritzbach era corretor de imóveis e negociava criptomoedas quando começou a colaborar com integrantes do PCC ao investir dinheiro de criminosos. Acabou se tornando pivô de uma guerra interna da facção, iniciada em 2021, ao ser acusado de encomendar a morte de Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, um dos principais traficantes do PCC, e do segurança Antônio Corona Neto, o Sem Sangue.
Para a polícia, Gritzbach havia sido responsável por um desfalque em Cara Preta de R$ 100 milhões em criptomoedas e, quando se viu cobrado pelo traficante, decidira matá-lo.
Ainda na sexta-feira, a polícia localizou o carro usado no crime. No veículo, havia colete à prova de balas e munição de fuzil. O inquérito ficará a cargo do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
O delator voltava de viagem a Goiás com a namorada quando foi recebido a tiros — não há informações sobre se ela está ferida. Segundo o advogado de defesa Ivelson Salotto, havia quatro seguranças com casal, que seriam PMs de "extrema confiança" que faziam bico para o delator.
Em depoimento ao DHPP, os seguranças disseram que estavam a caminho do aeroporto com o filho do empresário, mas que tiveram um problema no carro e chegaram atrasados.
Ex-funcionário da Porte Engenharia e Urbanismo, uma das maiores construtoras da cidade, Gritzbach fechou acordo de delação premiada, homologado pela Justiça em abril. As negociações com o Ministério Público Estadual duravam dois anos, e ele já havia prestado seis depoimentos em vídeo.
Em nota, a Porte diz que foi informada pela imprensa sobre a morte de Gritzbach, "com quem não mantém negócios há anos". Também afirma que ele foi "corretor de imóveis na empresa apenas entre 2014 e 2018".
Gritzbach estava no centro de megainvestigação
Na delação, o empresário falou sobre envolvimento do PCC, incluindo informações sobre homicídios de líderes da facção, como os traficantes Cara Preta e Django.
Também mencionou corrupção policial e suspeita de pagamento de propina na investigação da morte de Cara Preta. Procurada pela reportagem, a Secretaria da Segurança não se manifestou até sexta-feira.
Gritzbach havia sido alvo de um atentado na véspera do Natal de 2023, quando um tiro de fuzil foi disparado contra a janela do apartamento onde morava, no Tatuapé, zona leste de São Paulo. Na época, o empresário já negociava acordo de delação. A reportagem apurou que a polícia já identificou o responsável por esse atentado.
Gritzbach disse aos promotores que conheceu os integrantes da facção "no âmbito do ambiente de trabalho da Porte" por meio de um corretor. O Ministério Público investiga diretores da Porte, sob a suspeita de terem vendido mais de uma dezena de imóveis para traficantes.
Em agosto, Porte disse não saber do conteúdo do inquérito e que colaboraria com as autoridades.
Gritzbach dizia ter conhecido Cara Preta porque o traficante teria dois apartamentos no Tatuapé vendidos por um corretor próximo ao delator. Ligado ao envio de drogas à Europa, Cara Preta era acionista da empresa de ônibus Upbus. Em só 9 meses, teria movimentado cerca de R$ 160 milhões em contas bancárias, segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A direção da Upbus nega ter lavado dinheiro do PCC.
Cara Preta foi morto em 27 de dezembro de 2021 em uma emboscada no Tatuapé. Gritzbach negava ser mandante da execução de Cara Preta e também de Sem Sangue, que fazia a segurança do chefe da facção. A morte dos dois abriu uma guerra no PCC, com uma sequência de assassinatos — um dos acusados de ser o autor dos tiros contra Cara Preta foi decapitado.

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