04/06/2024 às 09h12min - Atualizada em 04/06/2024 às 09h12min

Mudança climática dobrou a probabilidade de chuva extrema no RS, aponta estudo

Gaucha ZH
Mateus Bruxel / Agencia RBS
A chuva intensa que atingiu o Rio Grande do Sul e causou destruição sem precedentes foi duas vezes mais provável devido às mudanças climáticas. A afirmação vem do estudo rápido de atribuição de causalidade, divulgado nesta segunda-feira (3), pela World Weather Attribution (WWA). Segundo a análise realizada por 13 cientistas climáticos, incluindo dois brasileiros, o fenômeno El Niño contribuiu amplamente para o evento climático extremo ocorrido entre 26 de abril e 5 de maio.
O trabalho foi revisado por pares. Participaram cientistas de universidades, organizações de pesquisa e agências meteorológicas do Brasil, Holanda, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos.
Os dados mais atualizados da Defesa Civil do Rio Grande do Sul apontam que 172 mortes foram registradas durante a enchente e 42 pessoas seguem desaparecidas em decorrência da chuva do início de maio. Aproximadamente 580 mil pessoas foram desalojadas e pouco mais de 37 mil ainda estão em abrigos. Dos 497 municípios gaúchos, 475 foram afetados, ou seja, 95%.
El Niño intensificou evento extremo
Os pesquisadores confirmaram que o El Niño desempenhou um papel importante no evento extremo registrado no RS. Nas observações realizadas, em comparação com uma fase neutra, o atual El Niño resultou em um aumento consistente em todos os conjuntos de dados e para os eventos de 4 e 10 dias consecutivos de chuva.
— As condições de El Niño resultaram em um aumento de três vezes na probabilidade e um aumento de 7% na intensidade desses eventos em comparação com condições neutras. Ambos os fatores (mudanças climáticas e El Niño) tiveram um fator decisivo para aumentar a magnitude e intensidade. Não tem como separar os impactos — afirmou o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e autor do estudo, Lincoln Alves, durante a apresentação dos resultados.
Segundo a pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e autora do estudo, Regina Rodrigues, entre o final de abril e início de maio, apesar de o El Niño apresentar sinais de enfraquecimento nas temperaturas superficiais no Pacífico, os impactos na atmosfera continuaram.
Como o estudo foi feito
Para compreender o efeito do aquecimento global antrópico, causado principalmente pela queima de combustíveis fósseis, sobre a chuva no Estado, os cientistas analisaram dados meteorológicos observados e modelos climáticos que possuem melhor "destreza" para avaliar o clima na região sul do Brasil.
O estudo caracterizou as condições meteorológicas e climáticas vigentes no período. Foram avaliadas a probabilidade e a intensidade de ocorrências consecutivas de chuva forte, ocorridas em períodos de 10 e quatro dias, incluindo a relação com o fenômeno El Niño. Eles compararam o clima atual, que está 1,2°C mais quente considerando a temperatura média global da superfície, com o clima pré-industrial.
De acordo com o estudo, o evento foi “extremamente raro”, sendo algo esperado que ocorra uma vez a cada cem e 250 anos no clima atual. Contudo, sem o aquecimento global, teria sido ainda mais raro.
 — A probabilidade desses eventos aumentou em um fator de 2, com um aumento de intensidade de 6% a 9% — relatou o pesquisador Lincoln Alves.

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