27/05/2024 às 10h04min - Atualizada em 27/05/2024 às 10h04min

Entidades e governos unem esforços para a retomada no Rio Grande do Sul

Gaucha ZH
LAURO ALVES / SECOM/Divulgação
Desde o início da tragédia climática, o Rio Grande do Sul vem contando com uma série de ações solidárias e medidas governamentais que têm um objetivo comum: ajudar a população atingida a se reerguer. Governos, entidades, empresas, universidades e voluntários estão unidos, por meio de diferentes iniciativas, para ajudar na reconstrução do Estado.
O Transforma RS, hub de colaboração formado por lideranças empresariais do Estado, trabalha há quatro anos justamente para conectar empresas, governo, universidades e sociedade. Desde o início das enchentes, o grupo passou a divulgar informações de diferentes empresas e entidades que estavam ajudando no voluntariado e na arrecadação de doações. Além disso, trouxe ao Rio Grande do Sul o consultor internacional com experiência em desastres socioambientais e conflitos armados, Márcio Gagliato.
De acordo com Daniel Randon, presidente do Transforma RS, a ideia foi trazê-lo para conversar com os empresários e com o governo sobre as possíveis estratégias para enfrentar a crise das enchentes. Durante o encontro, observaram exemplos de tragédias ocorridas pelo mundo, como o furação Katrina, e o período de reconstrução que os locais atingidos enfrentaram para tirar aprendizados do que pode ser feito aqui.
O presidente afirma que o desafio da reconstrução do Estado para o futuro é justamente conseguir um alinhamento das entidades e dos empresários junto ao governo. E reforça que todos estão empenhados em ajudar da forma que podem:
— A visão, nesse momento, é se preocupar em ajudar quem precisa, passar por essa crise humanitária para podermos, juntos, com bastante sinergia entre empresários, entidades, setor público e privado, reconstruir o nosso Estado. Acho que todos estão de acordo sobre essa necessidade de ser um projeto olhando a longo prazo, porque não adianta só replicar as cidades como eram antes, até pela questão de riscos de futuras catástrofes, que nós queremos evitar ao máximo.
Randon destaca que as entidades empresariais também estão unindo esforços para buscar as melhores alternativas para seus setores. Nesse viés, nasceu o programa de recuperação econômica e social Resgate-RS, idealizado pelo advogado Rafael Pandolfo, que reúne uma série de medidas fiscais que contemplam diferentes áreas da economia — elaboradas junto ao grupo de trabalho formado por integrantes da Fecomércio, da Farsul, da Federasul, da Fiergs e da OAB-RS.
— Fiquei muito impactado com essa tragédia e constatei que, além das vidas, precisaremos resgatar a atividade econômica do RS, os empregos e a dignidade de todos que perderam tudo. Então procurei desenhar, com a equipe do escritório, um programa fiscal que contemplasse todas as áreas da economia e tocasse nesses pontos sensíveis — explica Pandolfo, acrescentando que o trabalho é 100% pro bono e que o programa contempla projetos normativos prontos nos planos federal, estadual e municipal.
Conforme o advogado, os projetos federais foram entregues ao presidente Lula em 15 de maio, em São Leopoldo, e ao vice-presidente Geraldo Alckmin dois dias depois, em Brasília. Também foram apresentados pelas entidades ao ministro Paulo Pimenta na última quinta-feira (23). Os projetos estaduais foram entregues ao Estado na quarta (22) e, na próxima terça (28), haverá uma reunião de trabalho com a Sefaz-RS, afirma Pandolfo. Já os municipais, devem ser entregues nesta semana à prefeitura de Porto Alegre e dos demais municípios gaúchos.
O presidente da Fiergs, Gilberto Petry, reforça que, para restaurar o Rio Grande do Sul, é preciso que o governo federal encaminhe recursos para as empresas de diferentes setores que foram afetadas pelas enchentes.
— Nós levamos ao vice-presidente Alckmin uma série de pleitos detalhados daquilo que as empresas precisam. Por exemplo, nós vamos ter uma linha de crédito com juros baixos, de 3% ou 4% para aas empresas terem capital de giro para poder continuar tocando o seu negócio e não precisar mandar as pessoas embora — aponta.
Mas a Federação também está promovendo ações de solidariedade para ajudar quem precisa. Uma delas envolve a doação de 50 mil cestas básicas a trabalhadores da indústria atingidos pela tragédia. Além disso, o Serviço Social da Indústria do RS (Sesi-RS) e a Secretaria Estadual da Saúde (SES) firmaram um termo de cooperação com o objetivo de fortalecer os atendimentos em saúde à população afetada. Por meio da parceria, se torna possível a instalação de ao menos 40 tendas com estrutura de campanha, equipadas com materiais e com equipe formada por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, psicólogos e assistentes sociais.
Outras iniciativas
Por meio das lideranças locais da Rede Gerando Falcões, o Instituto Ascendendo Mentes (IAM) vem atuando no gerenciamento, na coleta e na distribuição de donativos de todos os tipos para 80 ONGs parceiras no RS. De acordo com a CEO da entidade, Nina Cardoso, a iniciativa já impactou mais de 150 mil pessoas na Região Metropolitana de Porto Alegre, nos Vales do Taquari e do Rio Pardo, na Região Carbonífera e no Extremo Sul.
Até o momento, foram doadas cerca de 100 toneladas de alimentos, mais de 135 mil litros de água, 80 mil fraldas, 50 mil produtos de higiene, 75 mil marmitas e sanduíches, 200 mil peças de roupas e calçados, e 90 mil peças de cama, mesa e banho. Para colaborar com a reconstrução do Estado, o Instituto também lançou a campanha “doe um funcionário por um dia”, para que voluntários possam seguir atuando nas entidades sociais de apoio.
A Gerando Falcões ainda será responsável por gerir um fundo de habitação aberto, que recebeu uma primeira doação de R$ 5 milhões da produtora de aço Gerdau. A ideia, segundo Nina, é convocar outras empresas a fazerem parte desse fundo, que tem como foco a construção de moradias na etapa de reconstrução do RS.
A intenção segue a linha do Movimento Próximos Passos RS, uma iniciativa da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) e Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), que pretende arrecadar recursos para a reconstrução de casas nas cidades onde as empresas atuam: Campo Bom, Igrejinha, Novo Hamburgo, Parobé, Roca Sales, Rolante e Três Coroas. A doação inicial — R$ 6 milhões — foi feita por Alexandre Birman, CEO da Arezzo&Co, em parceria com o Banco Master.
O Instituto Ling, em parceria com a Federasul e o Instituto Cultural Floresta, também anunciou uma iniciativa focada em obras de recuperação da infraestrutura nas regiões diretamente afetadas. Chamado Reconstrói RS, o projeto tem como objetivo destinar recursos de forma rápida, sem intermediações, para financiar obras urgentes, de alto impacto e de forma permanente, sempre em parceria com as comunidades locais. Além disso, busca estimular lideranças da sociedade civil de cada localidade atingida a chamarem para si a responsabilidade pela reconstrução.
Os primeiros R$ 50 milhões foram doados pela família Ling, mantenedora do Instituto Ling no Brasil e da Ling Foundation, com atuação nos Estados Unidos. O programa já conta com a adesão das Lojas Renner, de Salim Mattar, fundador da Localiza, que destinou R$ 5 milhões, e de Jayme Garfinkel, controlador da Porto Seguro, com R$ 1 milhão. A Federasul, por meio de 190 Associações Comerciais e Industriais (ACIs) do Interior, e o Instituto Cultural Floresta, realizarão a triagem, fiscalização e o acompanhamento da destinação dos recursos e da execução dos projetos.
Além do Reconstrói-RS, o ICF auxiliou órgãos de segurança com o repasse de 400 antenas de Starlink, milhares de lanternas e pilhas, roupas de borracha, coletes e outros equipamentos de ajuda aos resgates, barcos e jet skis. Também participa da iniciativa “De volta para casa”, junto com o Ciclo Empreendedor, para auxiliar na reconstrução dos lares de famílias atingidas.
Em Porto Alegre, empresários do 4º Distrito se uniram e criaram o movimento “Juntos pelo 4D”, a fim de garantir que o retorno à normalidade ocorra o mais breve possível na região, que foi bastante atingida pela água e envolve uma população de 54 mil pessoas dos bairros Floresta, Navegantes, Humaitá, São Geraldo e Farrapos. O grupo é formado por empresas como Anexxo, SLC Agrícola, Giros Peças, Liberta Investimentos, Tijolo Hub, família Renner e Banda Fresno, e trabalha em parceria com a comunidade local, voluntários e prefeitura.
A iniciativa ainda está na fase de arrecadação de materiais e recursos com as empresas apoiadoras — até o momento, foram arrecadados R$ 170 mil —, mas já distribuiu cerca de dois mil kits com produtos de limpeza para os moradores e donos de negócios da região. O projeto também deve receber do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) da Capital as ferramentas necessárias para iniciar os trabalhos de remoção de entulhos e limpeza das vias públicas assim que a água baixar.
Junto à prefeitura de Porto Alegre, o grupo vai elaborar um cronograma de atuação e destinação de contingente determinado por bairro. Enquanto a limpeza não é viável, os participantes estão articulando o recebimento de doações em dinheiro para comprar os itens necessários para o trabalho. As etapas seguintes referem-se ao mapeamento das necessidades dos microempreendedores e dos prejuízos, além da criação de um canal de arrecadação de recursos, que serão utilizados para repor as perdas e auxiliar para que as empresas possam se restabelecer.
— Entendemos que, diante do tamanho do estrago, apenas a força do poder público seria insuficiente para uma retomada rápida, que faz toda a diferença na redução de impactos negativos para nossa população e economia de todo o Estado”, comenta Bruno Dornelles, fundador da Tijolo Hub, espaço de inovação para o setor imobiliário e da construção civil.
Medidas governamentais
No âmbito do governo federal, uma série de medidas foram anunciadas. Uma delas envolve o repasse de valores diretamente aos atingidos. É o chamado auxílio reconstrução, um apoio financeiro no valor de R$ 5,1 mil para famílias gaúchas desabrigadas ou desalojadas, que residem em áreas afetadas pelas enchentes nos 369 municípios do RS em situação de emergência ou calamidade.
Apenas para a área da saúde, o governo federal já destinou mais de R$ 1,7 bilhão ao Rio Grande do Sul. Equipes da Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) também foram encaminhadas ao Estado para auxiliar no atendimento da população — até o momento, o RS conta com quatro hospitais de campanha operados pelo Ministério da Saúde. A pasta enviou ainda remessas de kits emergência, com medicamentos e insumos solicitados pela Secretaria Estadual de Saúde.
O governo do Estado também desenvolveu medidas próprias para mitigar as consequências da tragédia. O programa Volta por cima, que concede auxílio financeiro de R$ 2,5 mil para famílias desabrigadas, é uma delas. Outra ação envolve a distribuição dos recursos arrecadados por meio do pix SOS Rio Grande do Sul (R4 2 mil por família) e é direcionada àquelas que não são contemplados com o primeiro projeto.
O adiamento do pagamento da bolsa-auxílio do programa Todo Jovem na Escola e a isenção do pagamento da conta de água dos clientes abastecidos pela Aegea Corsan em 90 municípios atingidos por até seis meses também fazem parte das medidas anunciadas pelo governo gaúcho.
Iniciativas na área da educação
Instituições de ensino e entidades também estão por trás de diferentes iniciativas solidárias. Um exemplo é a campanha de arrecadação de materiais escolares elaborada pela Universidade do Vale do Taquari (Univates), pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e pelo Centro de Educação Básica Gustavo Adolfo, em parceria com Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS). Os itens serão destinados a alunos de escolas públicas do Vale do Taquari, do Vale do Rio Pardo e da região Centro-Serra, que foram atingidos pelas enchentes.
Além disso, a Unisc tem ações focadas na produção de itens de higiene, como xampu, sabonete e até repelente. Os produtos são desenvolvidos por meio do Projeto de Extensão Pró-Saúde nos laboratórios da instituição. Já foram doados 160 litros de xampu, 200 unidades de sabonete e 120 litros de repelente com extrato de citronela, para moradores das cidades de Rio Pardo, Sinimbu, Venâncio Aires, Sobradinho e Arroio do Meio.
Outras instituições estão mobilizadas na produção de materiais de limpeza. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), voluntários da Faculdade de Arquitetura desenvolveram um modelo de fabricação digital de rodos de madeira e já produziram 800 unidades, a partir do financiamento de uma empresa privada, que fará a distribuição solidária de kits de limpeza para pessoas afetadas. A expectativa é concluir mais 2 mil peças nesta semana, com a ajuda de doações via pix, para repassá-las diretamente às comunidades atingidas.
Já a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) está produzindo sabão líquido para ajudar na limpeza das residências afetadas. Foram fabricados cerca de 2,5 mil litros nas últimas semanas, com distribuição em cidades como Porto Alegre, Muçum, Roca Sales, Cruzeiro do Sul, Lajeado e Encantado. O projeto conta com doações de óleo de oliva cedido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) após rejeição no controle de qualidade, e de óleo de cozinha usado, em boas condições. Os demais insumos vêm da própria universidade ou da comunidade, que doa via pix. Uma gráfica de Porto Alegre colabora com a impressão de rótulos gratuitos para a identificação das garrafas.

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