03/04/2024 às 11h34min - Atualizada em 03/04/2024 às 11h34min
Facção criminosa que teria movimentado R$ 14 milhões em lavagem de dinheiro é alvo de operação
Gaucha ZH
Pelo menos R$ 14 milhões do tráfico de drogas teriam sido movimentados nos últimos meses por uma facção criminosa com atuação na zona leste e na zona sul de Porto Alegre. O grupo é alvo nesta quarta-feira (3) de ofensiva do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc). São cumpridos 13 mandados de prisão preventiva, durante a Operação Senhores do Crime, realizada pela Delegacia de Repressão a Lavagem de Dinheiro.
Também são cumpridos 25 mandados de busca e apreensão, assim como o sequestro de cinco imóveis. A operação ainda busca localizar possíveis ativos que estejam em nomes de supostos laranjas do grupo criminoso. Os mandados são cumpridos em Porto Alegre, Santa Maria, Viamão e Gravataí, além de ordens em casas prisionais. Às 9h, havia 13 presos na ação.
A ofensiva tem como alvo principal, segundo a polícia, as lideranças do grupo criminoso e os recursos que teriam sido obtidos com o comércio de drogas nas zonas Leste e Sul. Além dos líderes, parte deles já encarcerados, estão no foco da operação também os operadores financeiros da facção, contra os quais são cumpridos mandados de prisão.
— A partir do tráfico de drogas, eles estavam movimentando uma quantia considerável, são quantias milionárias. Esses operadores, que são gerentes financeiros, estão circulando nas contas muito dinheiro, decorrente da distribuição das drogas. Eles usam várias técnicas para não cair em fiscalizações. A gente analisa de forma minuciosa essas situações, para comprovar que aquelas contas são usadas como passagem — explica o delegado do Denarc, Adriano Nonnenmacher.
Além de controlar essa movimentação nas contas, esses operadores financeiros também seriam responsáveis por fazer os pagamentos e distribuição dos lucros, por meio do uso de nomes de “laranjas”. Em muitos casos, são movimentadas quantias menores, para tentar fugir da fiscalização, além da opção por usar valores em espécie, por meio de saques e depósitos.
— Eles pulverizam muito esse dinheiro. E sempre utilizando pessoas vinculadas à facção, comparsas, parentes. Infelizmente estamos percebendo, muitos parentes praticando atos de lavagem — diz Nonnenmacher.
Entre os presos, segundo o Denarc, está um servidor público municipal que atuava havia cinco anos na Região Metropolitana. Ele é suspeito de ter emprestado a conta para o grupo criminoso.
— O que chamou bastante atenção nas investigações é o fato de um indivíduo que a facção criminosa usava a sua conta bancária para lavar dinheiro. Esse indivíduo preso hoje, que cedia sua conta bancária, havia sido aprovado num concurso como agente penitenciário. Ele era servidor público há pelo menos cinco anos da prefeitura de Alvorada. Foi uma questão bastante inusitada —detalha o delegado Alencar Carraro, diretor de Investigações do Denarc.
A prefeitura de Alvorada emitiu uma nota sobre o caso, na qual afirma que decidiu afastar o servidor "provisoriamente de suas funções até que seja apurado o seu envolvimento nos crimes". Na manifestação, a administração enfatiza ainda que "a Prefeitura fica à disposição para sanar quaisquer dúvidas que possam surgir em relação ao assunto."
Apreensões
Apontada como uma das lideranças do grupo criminoso, uma mulher, 35 anos, companheira de um dos chefes da organização, foi presa na semana passada, também numa ação do Denarc. A investigada foi localizada na zona sul de Porto Alegre, e teve cumprida prisão preventiva por conta de uma investigação por associação ao tráfico. Na operação desta quarta-feira, ela teve novo mandado cumprido por lavagem de dinheiro. Além dela, outras mulheres são investigadas por atuarem como operadoras financeiras para os maridos.
— Elas não só emprestam as contas, como têm essa consciência de praticar a ocultação, pelas quantas milionárias que entram e saem das contas — explica Nonnenmacher.
O montante em sequestros, segundo a polícia, pode chegar a R$ 1,5 milhão, sendo ainda aguardada a contabilização de ativos no sistema financeiro. Entre os imóveis sequestrados pela polícia nesta quarta-feira, está um apartamento em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, que estava sendo usado para aluguel por meio de aplicativo.
Durante as buscas, a polícia apreendeu ainda uma arma, com alto poder de fogo. Foi localizada uma espingarda de calibre 12, automática, de origem turca.
—É uma arma difícil de ser apreendida. Nos chama a atenção pela capacidade dela de munições. Uma arma muito perigosa que hoje está sendo retirada das ruas das mãos desses criminosos — afirma o diretor do Denarc, delegado Carlos Wendt.
Comando Vermelho
Este não foi o único vínculo que a polícia identificou entre o grupo criminoso e o Rio de Janeiro. Durante as investigações, foram encontrados indícios de que a facção possui ligação com outra organização criminosa, o Comando Vermelho, do Rio de Janeiro. Alguns dos operadores financeiros, alvos da operação, estariam atrelados a uma dissidência e formação de uma possível nova quadrilha de âmbito regional.
Nas provas analisadas pela polícia, foram localizadas negociações e alusões sobre territórios na Capital, distribuição de valores, homicídios, dissidência para uma nova organização, além de os líderes indicarem esposas para darem comandos aos comparsas. Numa das mensagens identificadas pela investigação, há uma citação de um dos presos sobre o Comando Vermelho. “Avisa ele que toda a ideia que tínhamos trocado juntos na federal pra chega na linha do cv fecho e lacro 100%”, escreveu o investigado.
— Essa facção da Zona Leste está começando a ter um intercâmbio estadual — diz o delegado.