Foto: TÉRCIO TEIXEIRA/AFP/METSUL METEOROLOGIA Fevereiro é o último mês do chamado verão meteorológico (trimestre de dezembro a fevereiro), embora o verão astronômico chegue ao fim apenas no dia 20 de março, à 0h04. Como mês de verão, obviamente é quente e costuma registrar dias de muito alta temperatura com chuva principalmente de natureza convectiva, ou seja, associada ao ar quente e úmido.
No Sul do Brasil, historicamente, o mês não costuma ser muito chuvoso na maioria das áreas. A exceção é para o Leste de Santa Catarina, do Paraná e às vezes o extremo Nordeste gaúcho por conta da atuação da Zona de Convergência do Atlântico Sul, um canal de umidade que se origina na Amazônia, passa pelo Centro-Oeste e chega ao Sudeste. Às vezes, a inclinação da ZCAS traz chuva abundante para áreas mais ao Leste do Sul do Brasil, exceto o Litoral Sul gaúcho.
Porto Alegre tem em fevereiro algumas das suas maiores médias de temperatura do ano. De acordo com as normais 1991-2020 da estação do Jardim Botânico, a temperatura mínima média é de 20,7ºC, idêntica ao mês de janeiro e superior a de dezembro de 19,4ºC ou março de 19,5ºC. Já a média máxima histórica do mês na capital gaúcha é de 30,5ºC, a segunda mais alta entre os meses do ano, atrás dos 31,0ºC de janeiro.
Na cidade de São Paulo, na estação do Mirante de Santana, a média mínima histórica para o Mirante de Santana é de 19,6ºC, a mais alta do ano. Por sua vez, a média máxima mensal de 29,0ºC é a mais alta da climatologia anual da capital paulista, sendo superior a de janeiro de 28,6ºC.
A chuva média histórica de janeiro em Porto Alegre é de 110,8 mm. Trata-se da terceira menor entre os meses do ano. Já em Florianópolis, a média mensal de precipitação de fevereiro é de 198,3 mm, a segunda mais alta entre os meses do ano e apenas atrás de janeiro. Em Curitiba, média mensal de chuva no mês de 188,7 mm, segundo maior valor da climatologia anual e só superado por janeiro.
Na cidade de São Paulo, a média de precipitação histórica de fevereiro é de 257,7 mm, a segunda mais alta da climatologia anual e somente atrás dos 292,1 mm de janeiro. É o auge da estação chuvosa em muitas cidades do Sudeste do Brasil que têm em janeiro e fevereiro os seus meses mais chuvoso do ano pela influência da instabilidade tropical com ar quente e úmido que traz os temporais, além do impacto dos episódios da Zona de Convergência do Atlântico Sul.
Estado do Pacífico O último boletim semanal sobre o estado do Pacífico da agência climática dos Estados Unidos, publicado no começo desta semana, indicou que a anomalia de temperatura da superfície do mar era de 1,7ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Centro-Leste.
Esta região é a usada oficialmente na Meteorologia como referência para definir se há El Niño e ainda avaliar qual a sua intensidade. O valor positivo de 1,7ºC está ainda na faixa de El Niño forte (+1,5ºC a +1,9ºC).
Por outro lado, a região Niño 1+2, está com anomalia de +0,7ºC. O El Niño costeiro junto aos litorais do Peru e Equador teve início no mês de fevereiro e atingiu o seu máximo de intensidade durante o inverno. A maior anomalia de El Niño costeiro na região Niño 1+2 neste ano se deu na semana de 19 de julho com 3,5º C.
O fato de o El Niño ter atingido o seu período de pico no final do ano e no começo de 2024 não significa que o máximo dos seus efeitos ocorra nesta época do ano. No caso do Sul do Brasil, por exemplo, os seus efeitos são maiores na chuva com excessos na primavera, exatamente como ocorreu.
Chuva em fevereiro Fevereiro, como mês do auge do verão, tem a comum irregularidade da chuva com significativa variabilidade nos totais de chuva de uma área para outra. Em um mês, ponto de um município pode ter muita chuva e outros baixos volumes de precipitação. Os volumes são determinados demais por pancadas que são isoladas.
Neste fevereiro de 2024, o mês começa com chuva muito escassa no Sul do Brasil. Um grande número de cidades da Região Sul, sequer deve ter chuva na primeira semana do mês, em particular no Rio Grande do Sul.
Onde deve chover mais nos primeiros sete dias de fevereiro é no Mato Grosso, Goiás, Centro, Oeste e o Sul de Minas Gerais, áreas de São Paulo próximas de Minas e do Rio de Janeiro, e no estado fluminense. Os acumulados podem ser excessivos em partes de Minas Gerais, Goiás e do Distrito Federal.
Os mapas a seguir mostram a tendência de chuva semana a semana em fevereiro do modelo europeu em que se observa a tendência de um começo de mês seco no Sul do país, aumento da precipitação na segunda semana, mais perto da metade do mês, e um quadro de chuva irregular na região na segunda metade do mês.
Fevereiro, no geral, terá chuva irregular no Sul do Brasil. Haverá área dentro de um mesmo estado com precipitações abaixo e acima da média, mas, no geral, a maioria dos pontos deve ter chuva perto ou abaixo da média.
Com maior irregularidade na chuva, áreas que tiverem precipitação abaixo da média podem se ressentir no campo de escassez hídrica com estresse para as lavouras, como é o caso da soja que nesta época do ano tem seu período de maior demanda hídrica. Este era um risco que antecipávamos no prognóstico de verão.
Com o calor, o estresse vegetativo aumenta, e somente não é pior pela chuva volumosa dos últimos meses que garante índices de umidade no solo muito mais altos que nos últimos verões.
Projeção de anomalias de chuva para fevereiro do modelo norte-americano CFS | METSUL
No Rio Grande do Sul, do ponto de vista da climatologia histórica, as regiões Norte, Leste e Nordeste do estado têm uma maior propensão a episódios de pancadas de chuva pelo calor, incluindo o Litoral Norte que sofre maior influência das correntes de umidade que atuam nesta época do ano no Sudeste do Brasil e nos litorais de Santa Catarina e do Paraná. As praias, porém, devem ter em fevereiro a grande maioria dos dias com sol.
No Sudeste, São Paulo deve ter chuva irregular com muitas cidades do interior com um mês de precipitação abaixo da média. Deve chover mais em fevereiro no estado perto da costa e de Minas, incluindo na capital e na Grande São Paulo com alguns episódios de precipitação volumosa. Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo devem ser os estados com mais chuva em fevereiro, inclusive com excessos em alguns pontos.
No Centro-Oeste, Mato Grosso e Goiás seguirão sendo os estados com mais chuva, embora irregular na distribuição com excessos em alguns pontos e escassez em outros. O cenário é mais preocupante no Mato Grosso do Sul, onde um maior número de áreas deve ter precipitação abaixo da média.
Mesmo que algumas áreas do Centro-Oeste e do Sudeste terminem o mês com chuva abaixo da média, isso não significa que faltará chuva. Como as médias de chuva são muito altas nas duas regiões no verão, se o mês terminar, por exemplo, com precipitação 50 mm abaixo da normal histórica ainda assim terá chovido 200 mm ou 250 mm.
É sempre importante lembrar que nesta época do ano, durante o verão climático, a chuva no Brasil está associada principalmente ao calor e à umidade. Nuvens carregadas se formam por convecção e podem despejar altíssimos volumes localizados de chuva em curto intervalo, não raro com vendavais ou granizo. Estas tempestades isoladas fazem com que os volumes dentro de uma mesma cidade, região e estado variem demais nos meses de verão.
Temperatura em fevereiro Os modelos de clima apresentam tendências muito parecidas para este mês de fevereiro. A perspectiva é de mais um mês com temperatura acima da média em grande parte do país. Algumas áreas do Centro do Brasil podem ter marcas perto ou abaixo da média por maior persistência de chuva, mas, no geral, a sinalização é de marcas acima das normais históricas. Assim, a previsão da MetSul é de um mês com temperatura acima a muito acima da média em grande parte do Centro-Oeste, Sul e o Sudeste do Brasil.
Projeção de anomalias de temperatura para fevereiro do modelo norte-americano CFS | METSUL
Porto Alegre termina janeiro com 14 dias em que as máxima superaram 30ºC. Ou seja, em 17 dias do mês os termômetros sequer chegaram aos 30ºC, sendo que a média das máximas de janeiro é de 31ºC pela série 1991-2020. Somente dois dias em janeiro anotaram máximas acima de 35ºC, o que reforça a análise que não se tratou de um janeiro muito quente. Em comparação, janeiro em 2022 teve 15 dias com máximas iguais ou acima de 35ºC, sendo um acima de 40ºC.
Fevereiro, desta forma, não deve repetir o janeiro com número baixo de dias de calor. Grande parte dos dias do mês terá máximas acima de 30ºC, portanto tende a ser um mês mais quente na média do que foi janeiro na capital gaúcha e na maior parte do Sul do Brasil.
No interior de São Paulo e no Mato Grosso do Sul, com menos chuva do que costuma ocorrer nesta época do ano, a maior presença do sol deve favorecer um mês muito mais quente do que o habitual para fevereiro, inclusive com alguns dias de calor excessiva.
Finalmente, os mapas de modelos meteorológicos que ilustram este boletim são ilustrativos das tendências indicadas pelas simulações computadorizadas e não necessariamente representam o prognóstico climático final da MetSul Meteorologia.