21/11/2022 às 10h16min - Atualizada em 21/11/2022 às 10h16min

RS tem redução de casos de estelionato pelo quinto mês seguido

Polícia Civil do RS
Gaucha ZH
O Rio Grande do Sul tem redução nos registros de estelionato pelo quinto mês seguido. Na comparação entre outubro deste ano (6.280 casos) e o mesmo período do ano passado (6.998), a queda foi de 10,26%. Ainda assim, o número é alto: foram cerca de 202 registros por dia no mês passado. Os dados foram divulgados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado. No acumulado do ano, entre janeiro e outubro, o total de registros chega a 75.555, o que também representa queda: 1,82% na comparação com os mesmos 10 meses do ano passado, quando 76.955 registros foram contabilizados. Para as forças de segurança do Estado, a redução é fruto de uma combinação de fatores que vêm sendo articulados. Entre eles, operações policiais para combater pessoas e grupos responsáveis por golpes e ações de prevenção, realizadas para orientar a população sobre a prática.
Além disso, a diminuição também pode ser efeito de maior conscientização das pessoas, avalia o delegado André Anicet, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). No período de reclusão provocado pela pandemia de covid-19, o número de casos de estelionato aumentou significativamente, por exemplo. Isso porque a maior parte da comunicação passou a ser realizada pela internet, incluindo compras, aquisição de serviços e pagamento de contas. Com a proliferação dos crimes no período, a população ficou mais alerta.
— Há todo um trabalho de prevenção e de combate a esses crimes. As pessoas sabem que existem diferentes tipos de golpe, tanto na internet quanto em abordagens na rua, e estão mais alertas. No entanto, sabemos que existe a questão da subnotificação, em que a pessoa verifica um estelionato mas ignora, faz a denúncia do perfil apenas na plataforma e não registra boletim na polícia, o que é muito importante para o nosso trabalho — explica Anicet.
Há também os casos em que a pessoa cai no golpe, mas não procura as autoridades para fazer o registro, seja por vergonha ou por não acreditar que o valor perdido possa ser recuperado. As pessoas sabem que existem diferentes tipos de golpe, tanto na internet quanto em abordagens na rua, e estão mais alertas. No entanto, sabemos que existe a questão da subnotificação, em que a pessoa verifica um estelionato mas ignora, faz a denúncia do perfil apenas na plataforma e não registra boletim na polícia, o que é muito importante para o nosso trabalho.
Segundo o delegado, com o aumento de golpes pelas redes sociais, idosos deixaram de ser os principais alvos de criminosos: as vítimas são pessoas de todas as idades. Um dos mais comuns nos últimos meses é o de anúncio de produtos. Em um perfil hackeado, geralmente no Instagram, criminosos passam a anunciar itens, como móveis e roupas, para venda. Acreditando que a postagem foi feita pelo dono do perfil, muitas pessoas acabam fazendo um pix para a conta indicada pelo golpista. Outro golpe que foi bastante disseminado é o da oferta de emprego, que geralmente promete salários bem acima dos oferecidos no mercado de trabalho.
Taxa em nome de suposta associação
Um dos casos registrados recentemente foi o de uma cobrança recebida por um jornalista de Porto Alegre, referente a uma suposta mensalidade em atraso junto a uma associação de empresas da Capital. Em uma espécie de boleto, que traz apenas a possibilidade de pagamento por PIX, constam os dados do jornalista, como nome completo, endereço, CPF, e-mail e registro de Microempreendedor individual (MEI), criado por ele no começo do ano.
— Essa cobrança chegou por e-mail, como se fosse enviado por um escritório de advocacia. Dizia ali que, quando abri o MEI, eu teria aceitado me cadastrar junto a essa associação, e que a taxa de mensalidade está em atraso. Só que nunca ouvi falar dessa associação, fui pesquisar e percebi que deveria ser golpe. Só que o boleto realmente te dá a impressão de ser algo oficial, tem todos os meus dados ali. Acredito que eles tenham algum banco de dados de MEIs, pegam os dados, fazem o boleto personalizado e disparam para várias pessoas — conta o jornalista, ressaltando que alguns detalhes no e-mail e na cobrança recebida chamaram atenção, como um endereço de Brasília e o fato de o boleto não ter código de barras.
Pelo valor da taxa ser relativamente baixo, ele acredita que algumas pessoas podem acabar fazendo o pagamento, para evitar complicação:
— É um valor que não é muito baixo, nem muito alto. Você pensa que, às vezes, é melhor pagar do que ficar com o nome sujo por causa de um valor desse, acha que pode estar mesmo devendo e prefere pagar para não se incomodar. No primeiro momento, eu mesmo  fiquei com receio de acabar indo para um SPC, algo assim, mas aí fui pesquisar.
Caiu na rede, é vítima
Segundo o delegado Anicet, esse tipo de ação é conhecida como "spray and pray"  (pulverizar e orar, em tradução livre). Com esse método, os criminosos disparam a cobrança para diversas pessoas e aguardam aquelas que irão acreditar na dívida.
— O criminoso "espalha e reza" para que várias pessoas façam o pagamento. Com esses valores "miúdos", de R$ 200, R$ 300, o golpista vai lucrar com o volume de gente que cai nessa mentira. Para muita gente, é um valor alto, mas outras vão preferir fazer o pagamento para garantir que não ficarão com nenhuma pendência — diz o delegado. Em outros tipos de golpe, porém, o prejuízo pode ser bem maior. Anicet lembra o caso de um idoso que perdeu R$ 520 mil. Ela acreditava estar fazendo o pagamento a um advogado que atuava por uma suposta liberação mais rápida de saldo de precatórios.
— Ele foi fazendo os pagamentos a esse suposto advogado ao longo de um mês. A soma chegou a esse valor alto. E, ainda assim, ele não sabia que estava sendo enganado. Foi um familiar que soube dessa situação e o alertou, aconselhou a procurar a polícia — afirma o delegado.
Anicet reforça a importância do registro junto à polícia, mesmo em casos nos quais a pessoa perceba o golpe e não tenha prejuízos. Segundo ele, as denúncias entram nas estatísticas da polícia e servem para basear ações da instituição. Além disso, quando se consegue relacionar vários golpes aplicados a uma mesma pessoa ou grupo, o inquérito se torna mais robusto e a pena pela prática pode ser aumentada.
A orientação é levar o maior número de detalhes quando for fazer o registro, como o número de telefone usado no golpe e informações da conta bancária fornecida pelo criminoso.
Dicas para não cair em golpes
Golpistas, em geral, oferecem vantagens para atrair a vítima e têm pressa para obter lucro. Fique atento;
Não envie dados pessoais ou cópias de documentos para desconhecidos;
Se estiver acertando qualquer tipo de aluguel, seja por temporada ou permanente, visite o imóvel antes de fechar o negócio;   
Na hora de comprar algo pela internet, desconfie se o site só aceitar pagamento por boleto ou transferência, se tiver falhas ou erros na página e se o único contato for por WhatsApp; 
Desconfie de publicações na internet que ofereçam serviços e bens por valor abaixo do preço de mercado;   
Não adquira produtos pela internet sem antes se certificar de quem está vendendo. Mesmo que seja um perfil conhecido, só efetue o pagamento após conversar diretamente com a pessoa;   
No momento do pagamento, seja por PIX ou transferência, confira se o nome do destinatário é o mesmo de quem se está adquirindo o produto;   
Não repasse códigos recebidos no celular. Essa é uma das principais estratégias usadas para hackear contas no WhatsApp e no Instagram;   
Certifique-se de que a pessoa com quem você está conversando por WhatsApp, por exemplo, é ela mesma. É possível conferir isso telefonando para o contato;
Desconfie de ligações de desconhecidos e nunca repasse informações pessoais;
Durante a venda de algum item, só entregue o produto após o dinheiro entrar na conta ou receber o valor. Não confie em comprovantes de transferência porque eles podem ser falsificados;
Se tiver um familiar idoso, oriente a pessoa sobre os golpes mais comuns e como se prevenir deles;   
Caso seja vítima, registre a ocorrência. É possível utilizar a Delegacia Online. Reúna todas as informações que podem servir como provas, como dados bancários, conversas por mensagens e fotografias.

 

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