22/02/2021 às 09h47min - Atualizada em 22/02/2021 às 09h47min

Pressão de prefeitos e empresários ameaça sistema de saúde, que enfrenta risco de colapso

Site - gauchazh.clicrbs.com.br
Os números não deixam dúvida: o sistema hospitalar do Rio Grande do Sul vive seu momento de maior estresse, como disse o governador Eduardo Leite na sexta-feira (19) e reafirmaram neste domingo (21) o secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia, Luís Lamb, e o diretor de regulação hospitalar, Eduardo Elsade.
— Desde o início da pandemia nunca tínhamos visto o sistema tão estressado. E isso é no Estado inteiro. Parte das emergências está lotada e com restrições de atendimento. Temos pacientes em emergências e Unidades de Pronto Atendimento (UPA) esperando leito —detalha Elsade.
O diretor não soube precisar o tamanho da lista de espera naquele momento, mas a coluna apurou que, no final da tarde deste domingo, a fila por leitos hospitalares no Rio Grande do Sul tinha 365 pessoas. Desses, 116 com diagnóstico de covid-19, sendo 54 para internação em UTI. Médicos intensivistas que trabalham no enfrentamento à pandemia disseram à coluna que não tinham visto nada parecido nem no auge da crise, em agosto e setembro do ano passado.
Às 16h45min, o mapa das internações mostrava 326 pacientes com covid nas UTIs da Capital, 18 a menos do que o pico registrado no final de agosto. Considerando-se a lista de espera, o aumento da procura e o fato de que parte dos leitos existentes no ano passado foi desativada com a redução da demanda, tem-se o que se convencionou chamar de tempestade perfeita. Para piorar, as emergências atendem com restrições e outros procedimentos foram suspensos para atender aos casos de covid.
Mesmo diante desse quadro alarmante, prefeitos e líderes empresariais insistem em rasgar a bandeira preta hasteada em 11 regiões, nas quais vive 68% da população gaúcha, para manter abertas atividades que, em caso de risco altíssimo, deveriam ser fechadas temporariamente. O movimento, encabeçado pelo prefeito da Capital, Sebastião Melo, e ao qual aderiram os administradores de outros municípios, é pela manutenção da cogestão. Traduzindo, cogestão significa adotar os protocolos da bandeira imediatamente inferior — vermelha, no caso — de restrições mínimas à circulação.
Essa possibilidade assusta gestores de hospitais e médicos que estão na linha de frente. A convicção é de que sem reduzir a circulação de pessoas nas cidades não há como frear a contaminação e, portanto, a busca por mais e mais leitos no momento em que dezenas de hospitais públicos e privados estão com a capacidade esgotada.
Elsade diz que o Estado espera abrir mais 250 vagas em UTIs nos próximos dias, já prevendo aumento da demanda como consequência das aglomerações de Carnaval. Esses leitos não têm como ser criados de uma hora para outra. Por isso, a necessidade de frear as internações e evitar que se repitam no Rio Grande do Sul as cenas deploráveis registradas no Amazonas.
 
—A situação é grave. Muito grave — resume o secretário Lamb, preocupado com a dificuldade de parte dos prefeitos em interpretar o recado dos números.
Professor de Epidemiologia da UFRGS e integrante do comitê que analisa os dados no governo do Estado, Ricardo Kuchenbecker refuta o argumento dos dirigentes de federações empresariais de que este ou aquele setor não é fonte de contaminação:
— O problema é que para esses setores funcionarem, os empregados e os clientes precisam circular, usar transporte coletivo. A mobilidade não se circunscreve a Porto Alegre. Milhares de trabalhadores vêm da Região Metropolitana. Isso acaba produzindo aglomerações.
Embora a Famurs só vá discutir o tema da cogestão na reunião desta segunda-feira, o presidente da entidade, Maneco Hassen, prefeito de Taquari, é favorável à suspensão:
— Além da questão prática, de que existe risco real de colapso no sistema hospitalar, tem o fator psicológico. Se a bandeira preta não é motivo para restringir a circulação, a população vai entender que não precisa se cuidar. 
Taquari, aliás, é um exemplo da velocidade de crescimento das internações. Entre segunda e quarta-feira, eram quatro leitos de UTI ocupados. Neste domingo, nove dos 10 estavam com pacientes.

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
RÁDIO DIFUSORA Publicidade 1200x90
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp