17/04/2020 às 10h09min - Atualizada em 17/04/2020 às 10h09min

​Em artigos, novo ministro criticou isolamento vertical e elogiou Mandetta

site - exame.abril.com.br
O oncologista que será empossado como novo ministro da Saúde, em substituição a Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich já escreveu artigos em que defende o isolamento horizontal, aponta fragilidades do isolamento vertical – modelo defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e elogiou a atuação do agora antecessor.
 
Em três artigos publicados na plataforma LinkedIn nos dias 18 de março, 24 de março e um 3 de abril, Teich abordou especificamente a questão da pandemia do coronavírus. No primeiro, o médico faz uma defesa da telemedicina. É nesse artigo inicial em que consta o elogio à atuação do Mandetta frente à crise.
 
“Impossível falar sobre o problema da covid-19 no Brasil e não comentar a atuação brilhante do Ministro Luiz Henrique Mandetta. Excepcional condução, tranquilidade, equilíbrio, eficiência e enorme capacidade de comunicar de forma clara com a sociedade”, escreveu.
 
No segundo artigo, ele defende a necessidade de se conseguir o máximo de informações possível sobre a doença, para “rever diariamente a realidade, os cenários, as projeções e as ações”. Esse segundo texto traz as ideias mais alinhadas às que Bolsonaro têm defendido publicamente, incluindo a necessidade de projeções sobre o coronavírus levarem em consideração “o impacto de uma crise econômica nos níveis de saúde e mortalidade da população”.
 
Sobre a necessidade de se olhar a crise pelo aspecto econômico ou da saúde, ele afirmou: “Não me coloco aqui como alguém que defende um lado ou outro, na verdade é o oposto, não pode existir lado”.
 
Em seu texto mais recente sobre o tema, ele se coloca explicitamente em favor da adoção do isolamento horizontal, “onde toda a população que não executa atividades essenciais precisa seguir medidas de distanciamento social, é a melhor estratégia no momento”. O médico ainda aponta fragilidades do isolamento vertical, defendido pelo presidente, em que apenas pessoas de grupos de risco ficam em casa.
 
“Sendo real a informação que a maioria das transmissões acontecem à partir de pessoas sem sintomas, se deixarmos as pessoas com maior risco de morte pela covid-19 em casa e liberarmos aqueles com menor risco para o trabalho, com o passar do tempo teríamos pessoas assintomáticas transmitindo a doença para as famílias, para as pessoas de alto risco que foram isoladas e ficaram em casa”, explicou.
 
“O ideal seria um isolamento estratégico ou inteligente. Vamos falar sobre isso mais à frente”, prometeu.
 
Não vou julgar o que foi feito por Mandetta
 
Embora tenha sido escolhido por causa da insatisfação do presidente Jair Bolsonaro com Luiz Henrique Mandetta, o novo ministro da Saúde, Nelson Teich, afirmou que não julgará a atuação nem as medidas adotadas pelo antecessor. Em entrevista à Record TV na noite desta quinta-feira, 16, disse que agradecerá tudo o que puder aproveitar em sua gestão.
 
“Não vou comentar sobre o ministro Mandetta. Respeito o ministro Mandetta. É muito difícil julgar uma pessoa depois que aquilo já passou”, afirmou. “Uma coisa tem que ficar muito clara: eu não vou julgar o que foi feito antes de eu entrar. Vou julgar o que tenho que fazer daqui para frente. Sou daqui para frente. Vou respeitar o para trás e vou agradecer tudo o que a gente puder aproveitar para o que a gente for fazer daqui pra frente”.
 
Teich também evitou criticar frontalmente a estratégia de isolamento social amplo para conter o avanço da covid-19 no Brasil. Para o médico, qualquer modalidade de isolamento, ainda que apenas de pessoas de grupos de risco, deve levar em conta uma série de questões complementares. Na avaliação do novo ministro, o debate entre uma e outra estava sendo “superficial”.
 
“O que tenho colocado é que discussões genéricas, tipo o vertical, o horizontal, são muito superficiais. O fundamental seria que você tentasse entender, por exemplo, quantos por cento da população estão infectados, quantos estão imunizados, quanto é a transmissibilidade dessa doença. Se não tem isso, a discussão sobre o tipo de isolamento é mais uma discussão emocional, é uma discussão de opiniões”, disse.
 
Questionado sobre o que mudará de imediato ao ser oficializado ministro, respondeu que ainda precisa se ambientar. “Tenho que entender o que está acontecendo, tenho que entender o que foi feito, entender o que já existe hoje tanto na Saúde quanto fora da Saúde, nos ministérios. A partir daí vou fazer um diagnóstico e a partir daí vou definir políticas e ações”, frisou.
 
Perfil
 
Nelson Luiz Sperle Teich é médico oncologista, formado em Medicina pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e especialista em oncologia pelo Instituto Nacional do Câncer. Fundou e presidiu o Grupo Clínicas Oncológicas Integradas (COI) entre 1990 e 2018.
 
Na campanha de Bolsonaro à Presidência em 2018, atuou como consultor da área da saúde. Chegou a ser cotado ao Ministério da Saúde à época. Atualmente é sócio da Teich Health Care, uma consultoria de serviços médicos.
 
Na entrevista que marcou sua despedida da pasta, Mandetta definiu o sucessor como um bom pesquisador, embora não conheça o SUS. Teich tem o apoio da classe médica e mantém boa relação com empresários do setor da saúde.
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
RÁDIO DIFUSORA Publicidade 1200x90
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp