08/11/2024 às 10h22min - Atualizada em 08/11/2024 às 10h22min

Desigualdade de acesso entre homens brancos e mulheres negras ao ensino profissional do RS é a terceira maior do Brasil

Gaucha ZH
Pesquisa do Itaú Educação e Trabalho divulgada nesta quinta-feira (7) aponta para desigualdades de acesso à educação profissional e tecnológica (EPT) entre os diferentes perfis populacionais. Tendo como base dados do Censo Escolar de 2019, o estudo indica, entre os matriculados em cursos técnicos concomitantes ou integrados ao Ensino Médio, para uma presença de homens brancos superior à de mulheres negras, por exemplo. No Rio Grande do Sul, a diferença é a terceira maior do Brasil, atrás do Espírito Santo e de Minas Gerais.
O indicador usado para medir a equidade de acesso à EPT é o Índice de Representação Descritiva (IRD), no qual o valor 0 é considerado o equilíbrio total, que deve ser perseguido. Já valores entre -10 e 10 são considerados equilíbrio relativo; entre 10 e 30 (ou -10 e -30) são considerados desequilíbrios pequenos; entre 30 e 50 (ou -30 e -50), desequilíbrios médios; e valores acima de 50 (ou abaixo de -50) desequilíbrios altos. Quando o desequilíbrio é em valor positivo, trata-se de um quadro de sobrerrepresentação do grupo populacional analisado, e, quando negativo, de sub-representação.
O Rio Grande do Sul apresenta a maior sub-representação de mulheres, com índice -11,8, considerado desequilíbrio pequeno. Essa desigualdade cresce, contudo, quando a questão racial é adicionada: se o IRD entre mulheres brancas é de -7,5, o relativo a mulheres negras chega a -10,7, índice que alcança até 17,4, quando é feito recorte exclusivo das escolas da rede estadual.
A desigualdade entre a presença de homens e mulheres se repete na região Sul de modo geral. Enquanto o IRD do país é de –1, o desequilíbrio entre os Estados do Sul é de –9,3, seguido pelo Centro-Oeste, com –2,9.
Apesar das disparidades nas perspectivas de gênero e raça serem baixas, há desequilíbrio expressivo na oferta de EPT nas regiões a partir do nível socioeconômico dos estudantes, calculado a partir da escolaridade da mãe deles. Nesse estudo, mães com no máximo Ensino Fundamental completo e no máximo Ensino Médio completo caracterizaram famílias com baixo nível socioeconômico, e o restante das famílias foi considerado de alto nível socioeconômico.
Quase todas as regiões brasileiras mostram desequilíbrios que desfavorecem estudantes de baixo nível socioeconômico. Entre as mães com até o Ensino Fundamental, existe uma sub-representação em especial nas regiões Sudeste (-31,2) e Sul (-18,6). Nesse quesito, o número mais baixo de matrículas do segmento foi constatado em Minas Gerais (-41,3). No RS, o índice foi de –16,9. À medida que a escolaridade das mães aumenta, o desequilíbrio é menor – entre as matrículas gaúchas, por exemplo, cai para –11,4.
Eixos tecnológicos
Ao analisar as áreas de conhecimento nas quais esses diferentes perfis da sociedade se matriculam, a pesquisa aponta para uma disparidade na perspectiva de gênero. Mulheres estão concentradas em alguns eixos: ambiente e saúde, desenvolvimento educacional e social, gestão e negócios, produção cultural e design, produção alimentícia, produção industrial, e turismo, hospitalidade e lazer. No entanto, estão sub-representadas em controle e processos industriais e informação e comunicação. Nos outros eixos há um certo equilíbrio.
Ao considerar os eixos tecnológicos de acordo com o critério de classificação racial, nota-se que há desequilíbrios consideráveis quando olhamos para cada área separadamente. O mais significativo está no eixo de desenvolvimento educacional e social, com IRD de 52, com maior concentração de pretos, pardos e indígenas (PPI).
Esse grupo também é está muito presente na área de segurança e, em grau menor, em ambiente e saúde e turismo, hospitalidade e lazer (26,3 e 14,4 respectivamente). Contudo, o grupo é sub-representado nas áreas de produção industrial (-25,3), controle e processos industriais (-21,9) e em produção cultural e design (-15).
A superintendente do Itaú Educação e Trabalho, Ana Inoue, chama a atenção para o fato de, até o final do Ensino Médio, haver uma política pública universal direcionada aos estudantes, mas, que, ao seu final, para de existir. O baixo número de jovens matriculados em universidades ou na educação profissional e a taxa de desemprego superior nessa faixa etária sinalizam que as condições de acesso desse jovem ao mercado de trabalho são ruins.
— O mercado exige que o jovem tenha uma experiência anterior, mas, como ele não tem, vai atrás de conseguir qualquer experiência profissional, o que, muitas vezes, significa trabalhar em subempregos. Temos que olhar para essa realidade quando pensamos em políticas para a juventude — avalia.
Segundo a superintendente, o foco desta e de outras pesquisas do Itaú Educação e Trabalho é reduzir a desigualdade e criar perspectivas para as juventudes mais desalentadas, e, em sua opinião, isso passa pelo investimento na EPT. Esse ensino, contudo, precisa ter qualidade, estar alinhado às novas economias, à realidade do território onde está inserido e considerar os marcadores sociais apresentados nesse estudo.

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