09/07/2024 às 09h49min - Atualizada em 09/07/2024 às 09h49min
Como a análise do solo vai ajudar na recuperação da terra fértil no RS
Gaucha ZH
Jefferson Botega / Agencia RBS Dentre as frentes que trabalham pela recuperação das áreas devastadas pela enchente no Rio Grande do Sul, uma força-tarefa de mais de 300 profissionais está a campo para elaborar um raio X da condição das terras produtivas no Estado. O objetivo é que o diagnóstico dos solos ajude no processo de reconstrução de áreas que tiveram suas camadas férteis totalmente arrancadas pela água.
Mais de 10 mil análises devem ser coletadas até o fim dos trabalhos, liderados por equipes do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS) e com apoio de técnicos do país todo. As amostras serão analisadas em laboratório da Universidade de Caxias do Sul (UCS), na Serra.
— É como um exame de sangue. Primeiro se faz a coleta, depois a análise laboratorial, a interpretação deste exame e então a recomendação do que precisará ser reposto — compara o superintendente do Senar-RS, Eduardo Condorelli, sobre o trabalho que está sendo feito.
Com base na mancha de inundação identificada pela Embrapa, foram mapeados os 120 municípios com a piores condições de solo para se aprofundarem os estudos, integrando a chamada emergência em rota, onde os trabalhos estão concentrados.
São mais de 6 mil locais com dificuldades de solo identificados — estes os “no olho do furacão”, ou seja, onde as águas afetaram desde as lavouras até as casas dos produtores e todas as demais estruturas produtivas desses locais.
Em grande parte das áreas, além do que foi lavado pela água, há acúmulo de matéria orgânica e de sedimentos que vieram de outras regiões, represando nos locais.
O trabalho será fundamental para marcar o recomeço dos produtores na atividade, diz o coordenador da equipe de solos do Senar-RS, Diego Coimbra. Junto com colegas de equipe, o coordenador é um dos que percorre as áreas afetadas para demonstrar não só apoio técnico, mas também suporte emocional aos agricultores:
— Vamos interpretar (os resultados) com os nossos agrônomos e dar uma devolutiva para já providenciar alguma ajuda de correção. Enquanto pudermos, nós vamos ajudar. O que nos interessa é o produtor permanecer aqui.
Fincada no Vale do Taquari, epicentro das enchentes, a propriedade de Jorge Dienstmann, 52 anos, é uma das mais afetadas pelos últimos episódios climáticos. Em abril, a água acabou por arrastar o que recém havia sido recuperado das inundações de setembro e de novembro do ano passado. No evento mais recente, porém, o impacto sobre solos se mostrou ainda mais severo.
São pelo menos três situações visíveis no terreno da propriedade. Além das destruições em infraestrutura de galpões e aviários, há partes das lavouras que foram tomadas por areia depositada do Rio Taquari, outras com acúmulo denso de lodo e outras em que o solo foi totalmente lavado.
Técnico de campo do Senar, André Makio Kusano veio do Mato Grosso do Sul para auxiliar nas coletas de solo. Enquanto retirava as amostras de terra na área de Dienstmann, relatava com espanto o que via pelas propriedades visitadas:
— O impacto foi absurdo, coisa de filme. Só vendo de perto para acreditar.
Na quarta-feira (3), mais 15 colegas vindos de Estados como Mato Grosso, Alagoas e Goiás se juntaram ao grupo. Ao todo, 35 profissionais de fora do RS vão atuar no trabalho.
A esperança de recuperar a terra é para reerguer a produção. Antes da cheia, o local produzia 500 mil litros de leite e 500 mil aves ao ano. Com a devastação, Dienstmann diz que vai abandonar as atividades pecuárias e focar somente na agricultura. Ele espera estar com as terras prontas já para a próxima safra de verão, que começa a ser preparada ainda na primavera.
— A gente optou por parar (a pecuária) e tocar só com o grão. Somos a quarta geração nesta propriedade. Não era desta forma que era para parar... — lamenta o produtor.
O impacto sobre os solos
Estudo feito por pesquisadores da UFRGS e membros da Associação de Conservação de Solo e Água estima prejuízo de R$ 6 bilhões nas áreas devastadas.
Os danos calculados se dão em solos e nutrientes.
A enxurrada atingiu, principalmente, a camada que concentra o maior acúmulo de matéria orgânica, e, portanto, a parte mais fértil desses terrenos.
Recuperação das áreas vai exigir correção de solo e adaptação dos modelos produtivos.