22/11/2023 às 10h29min - Atualizada em 22/11/2023 às 10h29min

Preço da alimentação em casa recua na Grande Porto Alegre pela primeira vez em seis anos

Gaucha ZH
Jonathan Heckler / Agencia RBS
Após engatar altas em um passado recente, o preço de alguns alimentos importantes na mesa das famílias recuou neste ano. A alimentação no domicílio caiu 3,59% no acumulado de 12 meses fechados em outubro na região metropolitana de Porto Alegre. Essa é a primeira queda no indicador em seis anos – a última foi registrada em 2017. O dado é do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, pesquisado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Safra boa, com estiagem menos intensa, cotações internacionais em retração e diminuição de custos aos produtores ajudam a explicar esse ambiente, segundo especialistas. Para os próximos meses, a tendência é de alta em razão de fatores climáticos observados na reta final do ano.
A queda observada na alimentação em casa na Grande Porto Alegre também é verificada na média nacional, mas com intensidade menor. No país, esse grupo recuou 1,3% em 12 meses.
Boa oferta de alimentos
O economista André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), afirma que a safra deste ano no país, que contou com boa oferta de alimentos, ajuda a explicar o recuo no custo da alimentação no domicílio. Com isso, foi possível observar alguns itens com preços menos pesados ou estáveis ante anos anteriores. Além disso, preços mais baixos em algumas commodities agrícolas internacionais e redução nos custos de produção também ajudaram, conforme explica Braz:
— Quando cai o preço do milho e da soja, por exemplo, isso favorece a criação de animais dos quais a gente consome a carne, como bovinos, suínos e aves. O preço dessas proteínas, que são componentes importantes da alimentação, também fica mais barato.
O economista e professor da Universidade Feevale José Antônio Ribeiro de Moura destaca o fato de a falta de chuva ter sido menos severa no início deste ano no Rio Grande do Sul em relação a 2022. Isso contribui para uma queda mais acentuada nos preços de alguns alimentos na Região Metropolitana na comparação com a média nacional.
— O nosso clima se manteve estabilizado, sem muita volatilidade na primeira metade do ano. Isso deu de certa forma uma regularidade na oferta de produtos — diz Moura.
Âncora da inflação
Hoje, com a atualização de outubro, a inflação brasileira acumula alta de 4,82% em 12 meses. A meta central de inflação deste ano é de 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se o índice oscilar entre 1,75% e 4,75%. Especialistas projetam que esse cenário deverá ocorrer no fim deste ano. Caso se confirme, será a primeira vez que a meta é respeitada desde 2020.
André Braz, do FGV Ibre, afirma que a queda nos preços dos alimentos tem um papel fundamental para essa trajetória de perda de ritmo da inflação:
— Alimentação, neste ano, foi a âncora da inflação. Aquilo que evitou que a inflação se projetasse mais em 2023. Foi o bom comportamento da alimentação que segurou a inflação de 2023.
O professor da Feevale José Antônio Ribeiro de Moura afirma que esse movimento ajuda no recuo da taxa de juro no país, melhorando as condições de crédito e a aquisição de bens. Esse contexto fortalece os setores e economia como um todo, conforme o economista.
Percepção dos consumidores
Abrindo os dados por itens que puxam a redução na alimentação dentro de casa, óleo de soja, cebola, leite e alguns cortes de carne, como a costela, registram as maiores quedas nos preços na Grande Porto Alegre no acumulado de 12 meses. No entanto, a percepção dos consumidores em relação aos preços varia.
O mecânico Ryan Amaral, 22 anos, atua no tempo livre em um aplicativo de compra e entrega de alimentos de supermercados. Tanto no dia a dia de compras pessoais quanto na busca de itens para clientes da plataforma, Amaral relata ter percebido redução no valor de alguns alimentos, como o leite, que chegou a ficar em torno dos R$ 5 ou mais em anos anteriores:
— O preço do leite está um pouco mais barato. Faço rancho todo o dia 20 e já encontro leite por R$ 4, R$ 3 e pouco.
Já a consultora de TI Marselha Altmann, 45 anos, não enxerga uma redução muito significativa nos preços. Ela afirma que observa queda em alguns itens, mas que isso acaba sendo engolido por uma alta em outros produtos. Nesse sentido, o gasto mensal com alimentos não reduz e a conta continua alta, segundo Marselha. A diminuição nos valores é mais perceptível em atacarejos, que fazem promoções de acordo com o volume levado pelo cliente, segundo a consultora:
— Mas tu tem que fazer estoque para valer a pena. Às vezes, meu namorado faz isso e a gente divide. Aí sim tu sente uma diferença no bolso.
Expectativa para o futuro
Com o período de fim de safra ou entressafra e problemas meteorológicos nas lavouras, os preços dos alimentos devem subir nos próximos meses. Coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do FGV Ibre, André Braz afirma que esse efeito é sazonal, mas inflado pelo El Niño. Com isso, alguns produtos in natura ficam mais caros. Além disso, mudança no ciclo da criação de bovinos também pode acelerar os valores da carne, segundo Braz:
— Quando você sacrifica as fêmeas você tem dois efeitos. O primeiro é o aumento da oferta de carne e a redução de preços. O segundo é um aumento da carne ditado pela morosidade de você ter gado novo. Porque, se você matou as vacas, até as matrizes novas começarem a ficar prenhas e restabelecerem o rebanho leva um tempo.
O professor José Antônio Ribeiro de Moura, da Unisinos, também cita o efeito do El Niño sobre o campo. Com chuva mais volumosa e acompanhada de eventos adversos, a oferta de alguns alimentos fica menor:
— Os alimentos hortifrutigranjeiros, como frutas e batatas, são bem voláteis. Então, se espera um aumento no preço dos alimentos.
Ambos os especialistas avaliam que, mesmo com esse repique na reta final do ano, a alimentação em casa tem chances de fechar o ano com deflação ou estabilidade.

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