A corrupção de funcionários públicos ajuda a explicar a razão do contrabando ajudar a sustentar milhares de pessoas na província argentina de Misiones — conforme estimativa do próprio governo federal argentino. Uma investigação realizada pelo Ministério Público e pela Polícia Federal argentina resultou na prisão de nove pessoas, entre elas Marcos Antonio Duette, chefe do esquadrão da Gendarmeria Nacional em Oberá — cidade argentina situada a 73 quilômetros da fronteira com o Brasil, — e um grande empresário exportador de soja, Santiago Marino.
Conforme a Justiça argentina, agentes da Gendarmeria eram subornados para permitir o tráfego de carretas sobrecarregadas (acima do limite de peso) pela Ruta Nacional 14 e a Provincial 2 (junto à costa do Rio Uruguai), sem serem fiscalizadas. Os veículos utilizavam documentos de trafegabilidade de grãos emitidos por empresas de fachada (sem capacidade econômica), como se tivessem pago os impostos IVA e de Ganancia. Eles também forjavam destinos no Interior, quando se dirigiam ao rio, para contrabando.
O processo judicial a respeito, conduzido pelo juiz federal Alejandro Marcos Gallandat Luzuriaga, de Oberá, começou em 2022 e os investigados continuam presos. Eles são processados por contrabando qualificado, associação ilícita, lavagem de dinheiro e falsificação de documentos.
O esquema vigorava nas localidades de Oberá, Panambí, El Soberbio, San Javier, Apóstoles, Colonia Aurora y Mojón Grande, todas próximas à fronteira com o Brasil.
A existência desse processo judicial não significa ausência de fiscalização na Argentina. O volume de apreensões de soja transportada ilegalmente é até maior do que no lado brasileiro da fronteira. A guarnição da Prefectura Naval (Marinha argentina) situada em El Soberbio (em frente à cidade gaúcha de Tiradentes do Sul) contabiliza 1.128 toneladas de grãos apreendidos no ano passado. Os números deste ano não foram fornecidos.
Muitos dos contrabandistas flagrados em sua atividade pelas polícias Militar, Civil e Federal do Brasil são, também, donos de propriedades rurais situadas na costa do Rio Uruguai. Isso explica como conseguem trazer ilegalmente a soja: por meio de portos clandestinos construídos dentro de suas granjas ou sítios.
É o que mostra, por exemplo, o inquérito da Polícia Federal a respeito de um flagrante registrado em 9 de fevereiro deste ano em Tiradentes do Sul, cidade gaúcha que registra o maior número de ocorrências criminais por contrabando desse tipo.