No início de janeiro, uma família retornava do Litoral Norte, quando parou num posto de combustível na freeway, em Gravataí, na Região Metropolitana. O veículo foi deixado no estacionamento, enquanto eles seguiram para a lancheria. Cerca de meia hora depois, quando retornaram, descobriram que todos os pertences tinham desparecido: malas com roupas, eletrônicos, smartphones, cartões de crédito, documentos e dinheiro. O carro, que o motorista acreditava ter deixado trancado, não tinha sinal de arrombamento.
Esse foi um dos casos de crimes do tipo que chegou à 2ª Delegacia de Polícia (DP) de Gravataí neste ano. Por trás dessa ação, segundo os policiais, está um grupo alvo de ofensiva da Polícia Civil nesta terça-feira (1º). A chamada Operação Chapolin cumpre 13 mandados de prisão — dois de prisão preventiva e 11 de prisão temporária —, além de buscas na Região Metropolitana e Litoral Norte. São cumpridas 27 ordens de busca e apreensão, em cidades como Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Gravataí, Canoas, Cachoeirinha, Alvorada, Parobé, Novo Hamburgo, Ivoti e Cidreira. Até as 8h30min 11 pessoas haviam sido presas.
A mesma quadrilha, segundo a polícia, rondava estacionamentos de supermercados, postos de combustíveis e restaurantes para identificar e atacar vítimas. Aproveitavam-se do momento em que os proprietários se afastavam dos veículos para agir.
Uma das estratégias empregadas pelos criminosos seria o uso de um bloqueador, que embaralha os sinais eletromagnéticos do alarme e impede que o veículo seja trancado. Semelhante a um controle remoto, o equipamento é conhecido como chapolin.
— Eles agem de três formas: com uso do chapolin, quebrando o vidro, e também empurrando o miolo da porta para dentro, e arrombando a porta, estragando a fechadura — explica o delegado Joel Wagner, da 2ª DP de Gravataí.
Ações reiteradas
Em 4 de abril, um motorista deixou o veículo estacionado num supermercado de Gravataí, enquanto fazia compras. Quando retornou, percebeu que o vidro junto ao banco traseiro do lado esquerdo estava quebrado. Ele verificou que havia sumido um notebook, um smartphone, um fone de ouvido sem fio, um mouse sem fio, uma mochila, e cartões. Depois do furto, os criminosos tentaram utilizar os cartões numa loja de bebidas em Sapucaia do Sul. A maior parte da quadrilha é daquela cidade, segundo a polícia.
Por meio de imagens das câmeras de segurança, a polícia descobriu que pelo menos dois criminosos entraram no estacionamento, utilizando um veículo alugado e com placas falsas, arrombaram o carro e furtaram os objetos. No mesmo dia, outro furto foi registrado em outro supermercado. Da mesma forma, no início de junho, um condutor parou num posto de combustíveis para ir ao banheiro. Quando retornou, notou que o carro havia sido aberto. Uma bolsa, com documentos, inclusive passaportes, e três smartphones foram levados. O carro também não tinha sinais de arrombamento.
— Pode parecer que é um crime sem violência, sem grave ameaça, mas é algo que atinge todo mundo. Se a pessoa não passou por isso, conhece alguém. É todo um transtorno que gera. Muitas vezes são pessoas que estão viajando, passando pelo local, e têm todo esse problema — afirma o delegado.
Durante a apuração, a polícia conseguiu obter imagens de câmeras de segurança de diversos casos. Isso permitiu identificar que os mesmos investigados apareciam repetidas vezes nos vídeos. Dois tiveram prisão preventiva decretada e são apontados como autores dos furtos. Um deles foi preso recentemente e teve nesta terça-feira novo mandado de prisão preventiva cumprido.
O restante do grupo teria sido responsável por outras ações, como os aluguéis dos carros, revender os bens furtados, ou realizar transferências bancárias, a partir das contas das vítimas para as contas de outros investigados. Os bandidos teriam feito transferências após terem acesso aos notebooks, smartphones e cartões das vítimas.
O grupo foi apontado como suspeito de envolvimento em 10 casos. Mas, segundo o delegado, a polícia mapeou todos os furtos em veículos registrados em Gravataí desde o início deste ano e identificou cerca de 50. A quadrilha segue investigada pelos demais fatos. Conforme a polícia, além de Gravataí, o grupo agia em outras cidades da Região Metropolitana.
— Nesses 10 casos conseguimos atribuir a autoria a eles, mas há vários outros em que, por vezes, não se consegue imagens de câmeras, por exemplo. São crimes praticados com essa mesma dinâmica, nos quais se suspeita que eles também tenham sido os autores. Essas prisões e buscas vão auxiliar bastante na identificação de outros casos — diz Wagner.
Em muitos casos, segundo o delegado, os criminosos permaneciam à espreita observando a movimentação das vítimas. No momento em que os proprietários se afastavam dos carros, eles aproveitavam para agir. Wagner orienta os motoristas a tomarem cuidados ao deixar os veículos estacionados.
— São coisas simples, como dar aquela batida na maçaneta, verificar se está mesmo fechado. Não deixar objetos à vista. Eles acabam colocando a cara para dentro, e olham para se tem algo. Eles estão cuidando. Se a pessoa abre o porta-malas, está cheio de coisas, eles estão cuidando. Normalmente, eles não vão às cegas. Dão uma olhada. É preciso procurar não manusear objetos e não deixar à vista dentro do carro — afirma.
Prejuízo de quase R$ 100 mil
Segundo a investigação, nos 10 casos apurados até o momento as vítimas somam prejuízo de quase R$ 100 mil, considerando os bens levados e as transferências bancárias realizadas após os furtos. Nos dois casos com maiores perdas, os prejuízos foram de R$ 41 mil e de R$ 22,8 mil. As outras vítimas foram lesadas em quantias que variaram de R$ 350 até R$ 8 mil.
— Muitas vezes esses eletrônicos já têm receptadores certos. Muitos dos itens são revendidos, repassados, e outros ficam com eles mesmos. Infelizmente, acaba sendo um crime rentável — diz o delegado.
Um dos alvos da investigação, apontado como responsável por praticar os furtos, comprou em maio deste ano um BMW/320I. O veículo, considerado de luxo, é avaliado em R$ 336 mil. Segundo a polícia, a suspeita é de que o carro tenha sido adquirido com valores obtidos com os crimes, já que o investigado não possui renda compatível com a aquisição desse tipo de veículo. O automóvel foi apreendido. Além disso, dezenas de smartphones também foram recuperados pelos agentes.
A quadrilha é investigada por furto qualificado, estelionato e associação criminosa.
Como se proteger
Criminosos costumam escolher veículos onde podem furtar algum item de valor. Portanto, não deixe mochilas ou objetos como eletrônicos dentro do carro. Também evite deixar esses itens no veículo, ainda que seja no porta-malas.
Fique atento se o alarme realmente emitiu som. Quando o chapolin é utilizado, as portas não irão travar e não haverá som.
Espere alguns segundos e tente abrir as portas do carro para se certificar de que está trancado.
Trancas eletrônicas modernas, que geram códigos distintos a cada vez que são acionadas, podem evitar a clonagem feita pelo dispositivo.
Se possível, opte por locais com presença de segurança ou deixe o veículo num ponto que esteja no seu campo de visão.
Caso seja vítima de furto, procure uma delegacia ou registre o caso pela Delegacia Online. Neste caso, procure descrever os objetos que foram levados com detalhes.
Fonte: Polícia Civil-RS