12/07/2023 às 09h30min - Atualizada em 12/07/2023 às 09h30min

Estudo aponta que aumento da oferta de Ensino Médio Técnico pode ampliar em até 2,3% o PIB brasileiro

Gaucha ZH
Uma pesquisa divulgada nesta terça-feira (11) aponta que o Ensino Médio Técnico aumenta a empregabilidade e a renda daqueles que o frequentaram, o que poderia culminar em uma ampliação de até 2,32% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. O estudo sobre os potenciais efeitos macroeconômicos com a expansão dessa modalidade foi elaborado por economistas ligados ao Itaú Educação e Trabalho.
A projeção feita pelos pesquisadores procurou verificar quais seriam os efeitos, caso o acesso ao Ensino Médio Técnico — o que abrange a modalidade integrada ou concomitante à etapa — triplicasse no Brasil. Entre as constatações, está a de que profissionais que frequentaram esse tipo de estudo ganham, em média, 32% a mais do que os que foram alunos do Ensino Médio tradicional. O desemprego entre esses egressos também é menor, de 7,2%, contra 10,2% no formato regular.
O estudo identificou, ainda, o potencial do investimento em Ensino Médio Técnico para diminuir a desigualdade salarial. Foi tomado como base o Índice de Gini, que aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Triplicando o acesso da Educação Profissional e Tecnológica (EPT), o indicador, que vai de zero a um, poderia cair de 0,58 para 0,55. Quando mais próximo do zero, maior é a igualdade.
Luiza Guimarães, 19 anos, terminou o Ensino Médio sem certeza sobre o que gostaria de fazer na faculdade. Optou, então, por ingressar em um curso técnico em Publicidade na Escola Técnica Estadual Irmão Pedro, em Porto Alegre.
— O curso tinha duração de um ano, o que é muito mais rápido do que uma graduação. Quando uma amiga mandou a divulgação desse curso e eu vi que ele era, inclusive, gratuito, achei que era interessante e poderia me dar algumas noções, para eu saber se queria seguir nessa faculdade — conta a jovem.
Durante as aulas, sentiu que aprendeu muito sobre a prática da profissão de publicitária, e teve contato com o mercado de trabalho. Uma das atividades realizadas foi a organização de um festival com profissionais da área, muitos deles egressos da escola Irmão Pedro. Luiza conta que o evento terminou com um colega seu já contratado como estagiário de uma agência, e que ela própria, hoje, já faz estágio na área, que lhe deu a certeza de que quer seguir nesse campo de atuação.
— Já estou matriculada em uma faculdade de Publicidade e Propaganda, graças ao curso técnico. Amadureci muito nesse ano, pessoal e profissionalmente. Sempre me considerei criativa, gosto de arte e sinto que essa é uma área que envolve muito isso — observa Luiza.
Análise com modelos matemáticos
Segundo Vitor Fancio, um dos pesquisadores responsáveis, a projeção teve como base três pilares: o impacto no PIB, na desigualdade e o quanto os gastos com a ampliação das vagas renderiam um retorno econômico. Para isso, foram criados modelos matemáticos e analisados dados do Centro Paula Souza, de São Paulo, que oferece ensino profissionalizante e tem, hoje, uma média de cinco vezes candidatos por vaga, o que representaria uma chance de ingresso de 20%. A pesquisa verifica quais os desdobramentos caso essa chance subisse para 40% e para 60%.
— Quando a gente duplica a probabilidade de acesso, encontramos um aumento no PIB de 1,34%. Se triplicamos, o aumento é de 2,32%. Isso acontece porque, no Ensino Médio Técnico, os jovens aprendem novas habilidades relacionadas ao mercado de trabalho, então têm um ganho de produtividade que impacta no PIB — relata o economista.
Nesse modelo, os estudiosos constataram, ainda, uma expansão no percentual de pessoas com Ensino Superior, o que indicaria que o jovem que cursa a EPT tem um incentivo maior para ingressar em uma graduação depois da formação. A ampliação geraria, consequentemente, um aumento no nível educacional da força de trabalho média brasileira, o que estimularia a redução da desigualdade salarial.
Esse jovem, se você der oportunidade, vai se desenvolver, mas é preciso pensar numa política na qual o resultado desse desenvolvimento seja uma inclusão produtiva digna de qualidade no mundo do trabalho, num trabalho formal, com uma boa remuneração.
No cenário onde a oferta de vagas triplica, no entanto, o gasto público não é três vezes maior. Pelo contrário – o aumento no custo é pequeno, passando de 1,18%, em relação ao PIB, para 1,35%.
Realidade gaúcha
Carla Chiamareli, gerente de gestão do conhecimento do Itaú Educação e Trabalho, ressalta que, ao pensar uma política de expansão da EPT, é necessário entender como aquele aluno que está ingressando na modalidade chega.
— Quando o aluno vem do Ensino Fundamental, é preciso fazer um diagnóstico para ver como que ele está em relação ao português e a matemática, se é preciso fazer um nivelamento que ele consiga acompanhar o curso técnico da melhor forma e pensar qual é essa educação técnica, o que também vai requerer uma série de ações intersetoriais que extrapolam o campo da educação e se relacionam com a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Econômico — pontua a gerente.
Os cursos oferecidos, no entendimento de Carla, devem estar alinhados aos potenciais econômicos da região e com o plano de desenvolvimento estadual. Por isso, é importante que ocorra uma aproximação com o setor produtivo.
— Esse jovem, se você der oportunidade, vai se desenvolver, mas é preciso pensar numa política na qual o resultado desse desenvolvimento seja uma inclusão produtiva digna de qualidade no mundo do trabalho, num trabalho formal, com uma boa remuneração — salienta a profissional.
Carla aponta que o Rio Grande do Sul tem número melhores do que os nacionais no que se refere à inclusão de jovens no mundo do trabalho, e que já está em um movimento de ampliação da EPT.
— A secretária estadual de Educação, Raquel Teixeira, criou um plano decenal (que abrange um período de dez anos) para a Educação Técnica, que está sendo implementado neste ano e já tem projeção de crescimento para os próximos 10 anos. Acho que é um ponto muito positivo para o Rio Grande do Sul, que permite monitorar o alcance e a qualidade do que você está projetando — afirma a gerente.
Hoje, a concentração maior de matrículas na EPT gaúcha é no modelo subsequente, ou seja, após a conclusão do Ensino Médio. Para Carla, há um potencial de ampliação da oferta da modalidade integrada ou concomitante à etapa, a fim de que ele se forme na Educação Básica mais preparado para seguir seus estudos ou acessar o mundo do trabalho em um patamar já mais alto.

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