Com uma estratégia em estar atento ao céu, manter redes de contato com polícias da Argentina e do Paraguai e persistir em tocaias em áreas rurais resultou na apreensão de 441 quilos de cocaína e na prisão dos três homens que faziam o transporte terrestre da droga, em São Luiz Gonzaga, na última sexta-feira (1º). De acordo com a investigação da Polícia Civil, os entorpecentes vêm para o Estado a bordo de aviões que voam em baixa altitude e pousam em pistas clandestinas na Região das Missões.
Batizada de Operação Arremesso, o trabalho contínuo conta com participação da Brigada Militar e Polícia Rodoviária Federal desde 2021. Segundo o titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), delegado Heleno dos Santos, já foram mais de 1 tonelada apreendida em drogas que pousaram ou foram arremessadas em pleno voo pelos céus do Rio Grande do Sul. A localização é estratégica, pois cerca de cem quilômetros separam o Brasil do Paraguai sobre a Argentina, no noroeste do Estado.
Nesta sexta, a ajuda do 14º Batalhão da Brigada Militar foi essencial para encontrar os três veículos que receberam a droga logo após o avião ter deixado a carga em uma propriedade rural de São Nicolau, conta Heleno. Os donos da fazenda onde a pista fica serão chamados a depor sobre a utilização do terreno por suspeitos de narcotráfico.
— Ainda não temos a prova documental de que o tráfico seja internacional, apenas a suspeita de que venha do Paraguai ou da Bolívia. Os três presos na sexta prestaram depoimentos à Draco, ficaram em silêncio e foram acompanhados por advogados. Não contribuíram, mas tiveram prisão preventiva decretada — comenta o delegado.
A investigação acompanha a atividade aérea em toda Região das Missões. Segundo Heleno, os traficantes encaminham um avião por final de semana, sempre alternando o local de pouso ou arremesso das cargas. Isso dificulta a tocaia, feita em carros para interceptar aviões ágeis, ele explica. No entanto, uma aeronave com problemas mecânicos foi encontrada e apreendida graças a troca de informações com a rede de inteligência em 30 de março.
— O narcotráfico mudou muito o modus operandi. O transporte terrestre não é mais o principal, mas sim o aéreo. Está na hora de a Polícia Civil se qualificar para isso também. Esta operação é prova disso, pois as divisões de aviação do RS e do MT foram fundamentais para o sucesso da operação — avalia Heleno.
Existe a chance de esta aeronave apreendida, modelo bimotor EMB-820C Navajo, fabricada pela Embraer nos anos 1980, ter o uso autorizado pela Justiça para a Polícia Civil gaúcha. Em 2022, outra menor, também de uso consagrado por traficantes, passou pelo mesmo processo. A Baron 58 foi a responsável por trazer os 441 kg de cocaína em segurança para serem incinerados na Capital.
— Como a carga é muito volumosa e valiosa, tínhamos o receio de enfrentar uma tentativa de resgate ou ataque na estrada, tendo em vista que o material valeria cerca de R$ 40 milhões entre distribuidores nas ruas — justifica o delegado.
Antes da destruição da substância, análises são feitas para tentar mapear a origem dela. Caso a investigação comprove que a droga foi fabricada e embarcada nas aeronaves fora do Brasil com destino ao RS, o inquérito será feito pela Polícia Federal.