15/06/2023 às 10h36min - Atualizada em 15/06/2023 às 10h36min
Sem identificação, tronco fossilizado de 200 milhões de anos passa despercebido por muitos na Redenção
Gaucha ZH
Um tronco fossilizado de cerca de 200 milhões de anos passa despercebido por muitos dos que circulam pelo Parque da Redenção, em Porto Alegre. Com apenas 1,15m de altura e 72cm de diâmetro, entre o antigo Orquidário e o lago, quase ao lado de um bambuzal, o item lembra um toco de uma árvore cortada.
Quase todas as pessoas que transitam pelo local nem desconfiam da existência de algo geológico tão significativo, até porque não há qualquer placa de identificação.
— Sempre passo por aqui e não sabia. Que coisa maravilhosa, isso devia ter uma placa — sugere a autônoma Ingrid Moldt, de 58 anos, que passeava por ali com a cadela Sofia na manhã desta quarta-feira (14).
O tronco fóssil é do gênero Araucarioxylon e não se sabe ao certo quando foi instalado na Redenção. Há relatos de que teria sido colocado no lugar em 1982.
Provavelmente, seria originário da cidade de Mata ou de São Pedro do Sul, conhecidas por suas árvores fossilizadas, ambas no interior do Rio Grande do Sul. Porém, não há registro oficial de sua procedência. Parte do tronco possui resquícios de uma pichação.
Uma estrutura de metal existente até hoje junto da atração indica que ela já contou com uma placa. A identificação foi instalada em 2012, mas, segundo relatos, acabou vandalizada e não foi substituída.
O casal Suzane, 61, e Arnoldo Matte, 63, também não tinha ideia de que estava diante de um tronco petrificado.
— Nunca reparamos — diz Suzane, acrescentando:
— Pensava que era apenas o tronco de uma árvore.
O geólogo Pércio de Moraes Branco, 76, explica que um tronco fóssil é uma parte de árvore que se preservou após a queda ou morte da mesma. Sem contato com o ar e soterrado, não apodreceu. E a celulose foi substituída ao longo de milhões de anos por sílica, que é um material muito resistente química e fisicamente.
— Ninguém sabe como ele veio parar aqui, mas não me surpreende. Alguém deve ter tomado a iniciativa de trazê-lo para cá, assim como tem um na frente do museu da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) e no museu de Geologia — explica.
Desde 2003, o geólogo tenta convencer a prefeitura de Porto Alegre a instalar uma placa de identificação no local. Ele levou a questão à administração municipal, propondo a criação de uma placa de identificação para o tronco durante a Semana de Ciência e Tecnologia.
— Quando não havia identificação, fiz um teste. Sentei em uma cadeira e contei 165 pessoas adultas que passaram pelo tronco fóssil sem sequer olhar para ele — relata o geólogo.
Após a destruição da placa instalada em 2012, Branco conta que ele próprio colocou outras duas no local, mas que acabaram desaparecendo. Agora, o geólogo, que diz já ter visto, encoberto por vegetação, um outro exemplar de tronco petrificado no parque, sugere uma identificação gravada em granito.
O que diz a prefeitura
A prefeitura, por meio da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus), afirma que está prevista a instalação de uma nova placa junto ao tronco fóssil. Porém, não cita uma data. Veja, abaixo, a resposta:
"A Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade informa que a placa de identificação do tronco fossilizado no Parque Farroupilha foi retirada por ação de vândalos e prevê a instalação de uma nova placa. A Secretaria informa ainda que várias atividades de educação ambiental no parque, como trilhas interpretativas, incluem paradas no local para informação e orientação dos frequentadores da Redenção."