29/05/2023 às 13h51min - Atualizada em 29/05/2023 às 13h51min
Petrobras retoma investimentos em Rio Grande e projeta primeira biorrefinaria do país
Gaucha ZH
Dez anos após o auge do polo naval, a Petrobras volta a investir em Rio Grande, no sul do Estado. O presidente da empresa, Jean Paul Prates, assina nesta segunda-feira (29), no município, termo de cooperação técnica que visa tornar a Refinaria Riograndense a primeira biorrefinaria do país. O anúncio será feito em almoço no Clube do Comércio de Rio Grande, durante solenidade com a presença do governador Eduardo Leite, autoridades locais e executivos das controladoras da refinaria — a própria Petrobras, a Braskem e o grupo Ultra. Após a solenidade, os convidados visitam a refinaria.
Com investimento inicial de R$ 45 milhões, a Petrobras pretende produzir biocombustíveis e insumos para a indústria petroquímica a partir de matéria-prima 100% renovável. O planejamento prevê a transformação de óleo de soja refinado em biodiesel, gás liquefeito verde e bioaromáticos, como benzeno, tolueno e xileno, usados na produção de borracha sintética, nylon e PVC. A inclusão do biorrefino em Rio Grande faz parte de um pacote da Refinaria Riograndense que projeta investimentos de até R$ 3,5 bilhões na ampliação da unidade nos próximos cinco anos.
Atualmente, a planta processa 17 mil barris de petróleo ao dia, produzindo gasolina, diesel, óleo combustível, combustível de navio e nafta petroquímica. Essa cadeia será mantida em paralelo aos testes de biorrefino, sem alteração da produção diária. A unidade, porém, sofrerá pequenos ajustes para efetuar a transformação, via craqueamento catalítico fluído (FCC), de até 500 metros cúbicos de óleo de soja ao dia.
Testes programados
O planejamento prevê um teste inaugural, em novembro, com o processamento de 2 mil toneladas de soja durante cinco dias. Será o primeiro experimento em escala industrial da tecnologia desenvolvida pela Petrobras no Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (Cenpes) da empresa, no Rio de Janeiro. Até então, os testes haviam sido realizados somente em laboratórios e simuladores.
— Já existem processos de biorrefino no país, mas usando pequenas porcentagens de produtos biorrenováveis. A nossa ideia é fazer com 100% de matéria-prima renovável. Por isso, avançamos para uma nova etapa, com o teste em planta industrial. O risco de dar errado é zero ou muito próximo disso — garante o diretor de Engenharia, Tecnologia e Inovação da Petrobras, Carlos José do Nascimento Travassos.
A refinaria está praticamente pronta para o primeiro teste. Os R$ 45 milhões serão usados sobretudo na aquisição de matéria-prima e insumos, com pequenas adaptações no maquinário. As inovações serão concentradas basicamente no segundo teste, previsto para junho de 2024, quando haverá coprocessamento, com 90% de carga de petróleo e 10% de óleo de soja. A partir do êxito dos experimentos, será deflagrado o início da produção industrial.
— Vemos o biorrefino como estratégia de transformação. Os testes trazem para nós o primeiro passo dessa caminhada. Essa tecnologia já está licenciada para a Riograndense e queremos começar a produção industrial se possível ainda em 2024. A vantagem é que isso não obriga uma mudança de rota completa — afirma o diretor-superintendente da Refinaria, Felipe Jorge.
Planos de ampliar unidade
Os executivos estão otimistas em operar com capacidade total de biorrefino, ou seja, 500 metros cúbicos ao dia. A administração da refinaria, porém, projeta nos biocombustíveis o futuro da transição energética mundial, com crescimento exponencial da demanda. É com esse horizonte que surge o planejamento de ampliação da unidade, com inclusão no portfólio de produtos como querosene de aviação sustentável e diesel renovável, a partir de investimentos que podem chegar a US$ 700 milhões (R$ 3,5 bilhões).
— São coisas que se conectam. Os testes da Petrobras são com a planta atual para, de maneira rápida, ingressar no setor de biocombustíveis. O investimento que estamos estudando considera nossa posição, a posição do Estado como fonte abundante de matéria-prima (soja) e o avanço natural da legislação. É um pacote de visão de futuro para nos reposicionar como biorrefinaria — comenta Jorge.
A ampliação não significa abandono do processamento de petróleo. Detentora de cerca de 30% do mercado gaúcho e com faturamento anual de R$ 4 bilhões, a Refinaria Riograndense é a mais relevante empresa de Rio Grande. Em torno de 20% do orçamento municipal provém do R$ 1 bilhão em impostos pagos anualmente pela unidade de 40 hectares instalada às margens da Lagoa dos Patos.
No início de maio, a empresa fretou um navio-tanque com capacidade para transportar até 38,4 mil toneladas de petróleo justamente para garantir maior autonomia logística. A operação permitiu a compra de petróleo de campos do Nordeste e não mais dos Estados Unidos e da Argentina, origem de 92% da matéria-prima usada até o ano passado.
A expectativa em torno da retomada dos investimentos no setor petrolífero mobiliza o município. Por uma década — de 2007 a 2017 —, Rio Grande viveu um ciclo de euforia econômica a partir da instalação do polo naval. No auge das atividades, em 2013, o setor chegou a manter 24 mil empregos diretos. A crise da Petrobras e as investigações da Lava-Jato, que alcançaram empresas em atuação no município, praticamente paralisaram as atividades dos estaleiros, gerando desemprego e uma ressaca econômica. Porém, por ora, a produção de insumos sustentáveis na Refinaria Riograndense não prevê novos empregos na unidade, o que só deve ocorrer com a ampliação da planta, nos próximos anos.
A Refinaria Riograndense
Inaugurada em 1937, a indústria está na gênese da produção de petróleo no Brasil, sendo a primeira refinaria do país. Batizada originalmente de Refinaria Ipiranga, foi vendida em 2007 para Petrobras, Braskem e Ultra e gera atualmente 320 empregos diretos, 150 terceirizados e 2 mil indiretos.