30/11/2022 às 11h09min - Atualizada em 30/11/2022 às 11h09min

Telentrega de drogas que funcionava há 10 anos na Região Metropolitana é desarticulada

Gaucha ZH
A Polícia Civil deflagrou nesta quarta-feira (30) uma operação nos três Estados do sul do Brasil para desarticular uma telentrega de drogas que funcionava há 10 anos na região metropolitana de Porto Alegre. O esquema, segundo a investigação, vinha se adaptando às novas tecnologias. Os supostos responsáveis – cerca de 50 pessoas –também são investigados por lavar dinheiro em imóveis, carros de luxo, festas, viagens e empresas. A movimentação financeira ultrapassa os R$ 20 milhões desde 2017. Cerca de 300 policiais cumpriram 364 mandados, sendo 43 de prisão. Além da apreensão judicial de veículos e imóveis, houve bloqueios de contas bancárias e quebra de sigilos fiscais e na bolsa de valores. A operação ocorreu em 13 cidades e atacou um grupo que tinha clientes selecionados, somente pessoas de classe alta ou classe média-alta, atendendo apenas bairros nobres de várias cidades. Até por volta das 10h, 32 suspeitos foram presos.
A chamada Operação Erga Omnes (Significa "Contra Todos", em latim), foi coordenada pela 3ª Delegacia do Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc). Em um ano de investigação, o delegado Gabriel Borges tem certeza que se trata da organização criminosa mais antiga do Estado, vinculada a uma facção criminosa, que atua na venda de drogas. Mas ele acredita que seja também a maior quadrilha e a mais organizada no momento.
— Eles têm uma complexa rede de atividades bem definidas e detalhadas, com profissionais especializados e sempre se atualizando para atender a demanda, inclusive após a pandemia, quando houve uma grande procura por telentrega. Eles já agiam assim e se estruturaram ainda mais — explica Borges.
O delegado diz que havia pessoas especializadas e formadas em áreas como contabilidade, direito e do ramo imobiliário. No entanto, a principal atividade era a venda de drogas, principalmente maconha trazida do Uruguai, cocaína trazida do Peru e drogas sintéticas, até mesmo MDMA, que é o princípio ativo do ecstasy.
As vendas eram feitas, inicialmente, pelas redes sociais e basicamente por um perfil com o nome de "beijinho". Depois disso, quando os clientes pré-selecionados já eram considerados como de um grupo "fidelizado", eles mantinham contatos pelo WhatsApp. Os pagamentos eram feitos via Pix, mais recentemente, mas anteriormente através de máquinas de cartões de crédito. Durante a investigação, o Denarc apreendeu várias drogas comercializadas pelos criminosos.
Lavagem de dinheiro
Os cerca de 50 investigados, nesta fase inicial de apuração, eram divididos em núcleos. O primeiro era responsável pela venda de drogas nas principais cidades da Região Metropolitana. Na Capital, por exemplo, atendiam apenas bairros como Moinhos de Vento, Mont'Serrat e Bela Vista.
Os outros núcleos eram os responsáveis pelo apoio logístico e de transporte, bem como o de contabilidade e jurídico, além dos líderes. Um casal, que está com mandado de prisão decretado, é apontado por coordenar o esquema criminoso. Eles recebiam dinheiro da venda de drogas por meio de uma contadora e, a mesma profissional, encaminhava para um empresário que atua no ramo imobiliário e da construção civil. Este profissional, que também tem mandado de prisão contra ele, fazia a lavagem de dinheiro. Ele investia em empresas, na bolsa de valores e na aquisição de imóveis e veículos, além de distribuir em dezenas de contas bancárias em nome de laranjas. Os lucros que ele obtinha eram repassados para o casal líder da quadrilha e demais gerentes da telentrega.
Com o "dinheiro sujo" transformado em suposto "dinheiro limpo", os criminosos compraram casas em condomínios de luxo no Litoral Norte e no Vale do Paranhana, carros de alto valor, realizavam festas, viajaram para destinos turísticos no mundo inteiro e adquiriram empreendimentos dos mais variados ramos, como por exemplo, academias, estéticas, lojas de roupas e de produtos naturais.
Operação Erga Omnes
A operação ocorreu em 11 cidades gaúchas: Porto Alegre, Eldorado do Sul, Cachoeirinha, Gravataí e Canoas, na Região Metropolitana; Osório, Capão da Canoa e Xangri-lá, no Litoral Norte; Taquara, no Vale do Paranhana; Tapes, no Sul; e Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo. Também houve cumprimento de buscas e de mandados de prisão em Balneário Camboriú, em Santa Catarina, e Cascavel, no Paraná.
Além dos 43 mandados de prisão, sendo quatro preventivas e 39 temporárias, houve a apreensão judicial de nove veículos e de 25 imóveis, inclusive, nos outros dois Estados da região Sul. Houve o bloqueio de 47 contas bancárias, além de 188 quebras de sigilos bancário, fiscal e bursátil, envolvendo a bolsa de valores.
Os 300 policiais civis contaram com o apoio de um helicóptero na Região Metropolitana. A polícia não divulgou os nomes dos presos.

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