17/08/2022 às 09h27min - Atualizada em 17/08/2022 às 09h27min

No RS, 76,5% das categorias tiveram reajuste no mesmo nível ou abaixo da inflação no primeiro semestre

Gaucha ZH
A busca por recomposição salarial segue sob o peso da inflação persistente que ancora a retomada econômica no país. No Rio Grande do Sul, 76,5% das categorias pesquisadas no boletim Salariômetro, da  Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), tiveram reajuste em nível igual ou abaixo da inflação no primeiro semestre. Ou seja, não conseguiram ganho real. O Salariômetro usa dados coletados na página Mediador, do governo federal. Por inflação, o levantamento tem como base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). No acumulado dos primeiros seis meses do ano, o Estado registrou 1.251 negociações em 34 categorias. O reajuste real mediano do total desse grupo ficou em cerca de 0%. Das 34 classes de trabalho pesquisadas, oito registraram reajuste acima do INPC, 17 no mesmo patamar e nove em nível inferior. Isso mostra que 26 (76,5%) tiveram avanço no mesmo volume ou abaixo da inflação. No país, essa participação ocorre em patamar maior, com cerca de 94% (veja mais abaixo).
O professor sênior da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Salariômetro da Fipe, Hélio Zylberstajn, destaca que esse movimento segue ocorrendo em razão da inflação, que pesa nas mesas de negociação. Além disso, a dificuldade enfrentada pela atividade econômica nos primeiros meses do ano também entra nessa balança.
— O primeiro trimestre foi muito ruim. No segundo trimestre, a economia começou a melhorar. O semestre como um todo não foi bom, mas dá sinais de melhora — observa Zylberstajn.
O professor de economia do trabalho da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Cássio Calvete afirma que, além da inflação e da estagnação da economia, a precarização do mercado de trabalho influencia nas negociações. Nesse sentido, o professor cita empregos com pouca ou sem regulamentação, que geram certa passividade nas relações de trabalho.
— Tem todo esse processo de precarização, com postos de trabalho criados, oferecidos com baixa qualificação, baixa remuneração. Isso vai rebaixando o mercado de trabalho e impacta nas negociações coletivas — avalia Calvete.
O supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Rio Grande do Sul, Ricardo Franzoi, lembra que a aceleração da inflação na primeira metade do ano explica parte dessa dificuldade na busca por recomposição salarial. Além desse fator, Franzoi afirma que o desempenho dos setores ajuda a identificar o movimento. Segmentos que sofreram mais durante a pandemia, como o de serviços, enfrentam maior dificuldade para negociar reajustes. Por outro lado, grupos ligados à indústria, que enfrentaram restrições menores, têm mais gordura para queimar nesse processo, segundo o especialista:
— São setores que nunca pararam. Por exemplo, a indústria da alimentação, metalurgia, agricultura. De certa forma, com isso, conseguiu reajuste integral ou pequeno aumento.
Os dados do Salariômetro vão na mesma linha da avaliação de Franzoi. Após radiodifusão e televisão e empresas jornalísticas, reparação de eletroeletrônicos, bares, restaurantes, hotéis, similares e diversão e turismo estão no grupo que carrega as principais variações negativas. Já na parte de cima do ranking, indústria do vidro, indústrias extrativas, metalúrgica, construção civil e confecções/vestuário carregam as maiores altas, mesmo que em patamares tímidos. Sobre o fato de o percentual do país no âmbito de negociações sem ganho real estar acima do nível do Estado, Franzoi destaca aspectos de estrutura econômica e de períodos de negociação. O especialista cita a força da indústria, que paga salários maiores, na Região Sul dentro desse movimento. Outro ponto citado pelo supervisor técnico é o fato de o Rio Grande do Sul concentrar parte das negociações no primeiro semestre. Já alguns Estados, como São Paulo, têm definição de acordos na segunda metade do ano, o que impacta os percentuais.
Próximos meses
O coordenador do Salariômetro afirma que a projeção de desaceleração da inflação tira um dos pesos da mesa de negociações. O crescimento do número de pessoas trabalhando também entra nesse processo de alívio, pois aumenta o contingente de pessoas recebendo renda, segundo o professor.
— O crescimento de gente ganhando renda significa mais consumo, que aumenta a atividade econômica. Isso indica que os próximos meses devem ser melhores. Os trabalhadores terão condição melhor para negociar — estima Zylberstajn.
Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) caminham em linha com a análise do professor. A taxa de desemprego ficou em 9,3% no país no trimestre encerrado em junho — o menor patamar para o período desde 2015, quando foi de 8,4%, segundo informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou queda de 0,68% em julho, deflação mais intensa da série histórica, iniciada em janeiro de 1980. O supervisor técnico do Dieese no Estado afirma que a desaceleração da inflação provoca certo alívio na renda das famílias. Os incentivos e benefícios do governo também devem gerar reflexo na economia porque boa parte desse recurso vai para consumo, segundo Franzoi:
— A tendência é de a economia melhorar, infelizmente somente agora, nesse período eleitoral. Isso ajuda nas negociações. Acho que esses indicadores vão melhorar nos últimos meses do ano.

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