O número de feminicídios apresentou nova alta no Rio Grande do Sul. Os indicadores criminais, divulgados nesta sexta-feira pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP), evidenciam a resistência da sociedade gaúcha em promover uma mudança de cultura voltada ao respeito e a igualdade das mulheres. Em agosto, os feminicídios cresceram, passando de quatro casos em 2020 para 13 vítimas neste ano – aumento de 225%. O dado também impacta no acumulado desde janeiro, que subiu de 57 para 72 assassinatos por motivo de gênero – crescimento de 26%.
Mais uma vez, a estatística também reforça a urgência de ampliar a conscientização de toda a população quanto ao papel fundamental das denúncias, que podem fazer a diferença para salvar vidas. Entre as 13 vítimas de feminicídio em agosto, apenas duas tinham registro de ocorrência anterior contra o agressor. E em nove dos 13 casos, o criminoso tinha vínculo amoroso ou familiar com a mulher assassinada. Números que escancaram a importância de parentes, amigos, vizinhos, colegas de trabalho e de escola, ou até mesmo desconhecidos realizarem a denúncia ao primeiro sinal de violência. Quanto mais cedo for levado às autoridades o conhecimento sobre possíveis abusos, maiores são as chances de auxiliar as mulheres vítimas a romperem com o ciclo de violência antes que ele termine em um feminicídio.
Além do Disque Denúncia 181 e do Denúncia Digital 181, no site da SSP (ssp.rs.gov.br/denúncia-digital), o WhatsApp da Polícia Civil (51 – 98444-0606) recebe mensagens 24 horas, sem a necessidade de se identificar, e a Delegacia Online (delegaciaonline.rs.gov.br), que teve suas possibilidades de registro aumentadas para receber os relatos de violência doméstica, também permite fazer o boletim de ocorrência, com a mesma validade do documento emitido presencialmente, a qualquer horário e por qualquer dispositivo com internet. Para quem não tem acesso, pode procurar qualquer Delegacia de Polícia, além das 23 Deams hoje existentes no Estado. Para socorro urgente em emergências, o número é o 190.
No trabalho para frear o aumento desse crime, as forças de segurança têm multiplicado ações para ampliar os canais de comunicação e acolhimento do público feminino, além de intensificar atividades preventivas e a repressão contra os agressores. No início de agosto, com a participação das 23 Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (DEAMs), a Polícia Civil deflagrou a Operação Margaridas, que cumpriu uma centena de mandados de busca e apreensão e de prisão em mais de 150 cidades de todas as regiões do RS.
Desde o dia 20 de agosto, em ofensiva que se estenderá até 20 de setembro, está em andamento a Operação Maria da Penha – Defenda a Mulher, que além de mandados da Polícia Civil, está intensificando as ações ostensivas e preventivas realizadas pela Patrulhas Maria da Penha (PMPs) da Brigada Militar.
Homicídios: O total de vítimas caiu de 140 em agosto de 2020 para 108 no mesmo mês deste ano, uma redução de 22,9%. Na série histórica, só houve somas menores para o período de um mês nos anos de 2005 e 2006, o que coloca o total atual de homicídios como o mais baixo em 15 anos. Em relação ao pior agosto já vivido no Estado, em 2015, quando 240 gaúchos foram assassinados, a queda chega a 55%. A sequência de reduções também fez despencar o número de homicídios no acumulado entre janeiro e agosto. A comparação de oito meses do ano passado e de 2021 mostra queda de 1.266 vítimas para 1.043 – uma retração de 17,6% com 223 vidas preservadas.
Latrocínios: Outro crime contra a vida que teve queda no Estado em agosto foi o latrocínio. Com quatro casos, um a menos que no ano passado (-20%), os roubos com morte repetiram o menor total da série histórica para o mês, registrado exatamente no primeiro ano de contabilização, em 2002. Frente ao pico, de 15 latrocínios em agosto dos anos de 2013 e 2015, a marca de 2021 é 73,3% menor. No acumulado desde janeiro, o RS soma 42 roubos com morte, 12,5% menos que os 48 registrados no ano passado. É a segunda menor marca da série histórica, só fica acima do resultado de 2009, quando houve 38 casos.
Roubo de veículos: Entre os indicadores criminais, o que melhor demonstra a queda persistente dos crimes patrimoniais é o roubo de veículos, que pelo segundo mês consecutivo bateu o recorde da menor marca já verificada para um período de 30 dias desde que teve início a contabilização desse tipo de delito, há 19 anos. Com apenas 314 casos em todo o Estado, agosto conseguiu superar o mínimo anterior, que havia sido atingido em julho, com 324 ocorrências
Ataques a banco: No mês em que o país acompanhou com espanto uma quadrilha de assaltantes de banco sitiar o município de Araçatuba, no noroeste de São Paulo, o Rio Grande do Sul alcançou pela segunda vez desde que se tem registros o feito de zerar os indicadores de furto e roubo a estabelecimentos bancários. Em agosto, não houve no Estado qualquer registro de ataque a banco – situação semelhante só havia ocorrido antes em junho deste ano. Em oito meses de 2021, o RS soma 32 ataques a banco, seis a menos que os 38 de igual período no ano passado, o que equivale à uma queda de 15,8%.
Roubo a transporte coletivo: Outro crime patrimonial que sustenta retração nos últimos dois anos é o roubo a transporte coletivo, que em agosto confirmou a tendência e se manteve no menor patamar desde que teve início a sua contabilização no Estado. Foram 109 ocorrências envolvendo motoristas e passageiros de ônibus e lotações no mês, contra 133 em igual período do ano passado, uma queda de 18%.