Após cair a sua menor marca histórica em 2020, o número de feminicídios em julho deste ano aumentou mais de quatro vezes no Rio Grande do Sul. O sétimo mês de 2021 registrou nove casos frente a dois em igual período do ano anterior, crescimento de 350%. Dois assassinatos de mulheres por questões de gênero aconteceram em Porto Alegre e os demais em Bento Gonçalves, Guaíba, Rio Grande, São Gabriel, Sapiranga, Sentinela do Sul e Soledade - o que mostra que os crimes não são concentrados em uma única região. Das nove vítimas de feminicídio de julho, apenas duas tinham registro de ocorrência anterior contra o agressor.
— É um número bastante expressivo. São sete mulheres que não procuraram fazer registro e que não conseguimos enxergá-las até que virem estatística de feminicídio. O enfrentamento à violência doméstica não é só questão de segurança pública. Enquanto não houver um engajamento de toda sociedade, ensino na escola, no mundo corporativo e apoio da imprensa não teremos um retorno efetivo — afirma a Diretora da Divisão de Proteção e Atendimento à Mulher (Dipam) e titular da 1ª Delegacia Especializadas no Atendimento à Mulher (Deam), delegada Jeiselaure Rocha de Souza.
O resultado de julho também impactou no acumulado dos meses que havia fechado o primeiro semestre de 2021 em redução. Agora, na soma dos sete meses, passou de 53 no ano passado para 58 neste ano, acréscimo de 9%. Segundo Jeiselaure, há 90% de subnotificação dos casos de violência contra a mulher - as agressões que antecedem o feminicídio.
— As 10% que nos procuram e rompem o silêncio precisam percorrer um caminho muito longo e árduo. É preciso uma rede de apoio com suporte psicológico. Ela precisa muito além do boletim de ocorrência. Precisa de apoio jurídico, receber benefício social, capacitação profissional e entender que ela não é a culpada por aquilo. O tempo médio que elas ficam num relacionamento abusivo são dez anos até fazer o primeiro registro. Nós, sociedade, precisamos dizer que estamos do lado dela. As mulheres estão morrendo e a cada vida que se perde é uma família que se desestrutura.
Como reação ao aumento dos casos em julho e para marcar o Agosto Lilás, que alerta para o crescimento do número de feminicídios em meio ao período de isolamento social, ocorreu no dia 6 a Operação Margaridas que envolveu as 23 Deams do RS. Com a participação de 186 policiais, foram cumpridos 51 mandados de prisão, 82 mandados de busca e apreensão em 163 cidades, além da verificação de 273 denúncias de violência.
GZH